É Domingo. Dia frio. Chuva fina. Típico do inverno do sul. Acabo de ler todos os editoriais e as colunas de opinião (não o noticiário) de todos os principais jornais brasileiros (coisa da internet). Ufa. Há uma unanimidade. Estou até meio com medo. No twitter (herculano53) pelo andar da carruagem, já havia antecipado a minha conclusão. É impressionante como há dois brasis: o dos cidadãos e cidadãs razoavelmente informadas (e incrédulas) e das pessoas indigentes (no discernimento) e reféns da bravata, do palanque e da ameaça dos políticos quando os jogos de interesses do poder estão levemente ameaçados.
E elas (os ignorantes, alienados e ausentes de todos os tipos na cidadania) são maioria e os políticos (de todos os partidos) sabem disso. Por isso eles as manipulam, constrangem, ameaçam, vigam, dissimulam, subvencionam (com o dinheiro dos tributos de todos nós) e constroem poderes que resultam em fatos como o mensalão, dólares nas cuecas, privatizações e estatizações duvidosas, contratos, desvios éticos sem precedentes e à falta de punição à maioria deles.
O que parecia uma percepção, já tem uma linha de fundamentação. Uma pesquisa divulgada pelo Datafolha sem muito alarde há uma semana retrata isto: 22%, repito, um quarto dos entrevistados não sabia que o senador maranhense pelo PMDB do Amapá, José Sarney, estava encrencado e sob fogo cerrrado da dúvida. Eles, ao que parece, não foram atingidos (ou sensibilizados, na linguagem dos políticos) pela saraivada de notícias e comentários dos jornais, rádios, televisões e internet. Pior. Do restante (78%) que se dizia ter conhecimento do noticiário, mais da metade (53%) não sabia, repito, não sabia exatamente qual era ou é o mal se acometia ou se acomete sobre o Senador. E há liberdade de comunicação e expressão, apesar da censura imposta há 23 dias e ainda vigente ao jornal Estado de São Paulo. Ou seja, tem conhecimento de causa e razão o político que disse que estava se lixando para a opinião pública.
Voltando. O que falta então? Gente esclarecida para receber a informação, confrontá-la, analisá-la, julgá-la, propagá-la e melhor: fazer escolhas. Talvez seja esse o truque pela qual o nosso sistema educacional se enverede propositadamente num caos, num ente político (e ideologico) e pífio nos resultados, quando comparado até mesmo com Cuba. Os políticos ainda preferem lidar com uma massa de ignorantes, pedintes e subservientes. É mais barato, é mail fácil.Até na desgraça eles saem ganhando, criam discursos, mobilização e esmolas.
Da leitura de hoje dos jornais trago uma observação e um artigo para compartilhar e refletir. A observação é a de que José Dirceu, o pai da República sindical, do aparelhamento do poder a qualquer preço e do mensalão, escreveu um artigo (“Alternativa Verde?”) desqualificando o PV e colocando-o próximo aos interesses do DEM e do PSDB. É a tentativa de “abrir os olhos” da senadora Marina Silva (ex-PT), a corajosa, a que tem vergonha na cara e assim evitar a ida dela para o PV (como já sinalizou) e lá fazer estragos aos planos de 20 anos de poder que o próprio Dirceu desenhou para o PT (aliás, Sérgio Motta, fez isso também para o PSDB). O PV quer ser a terceira via entre o PSDB/DEM e o PT/PMDB/PP/PR/PTB/PSB. E isso, na visão de Dirceu, pode favorecer o PSDB e o DEM. Ou seja, o jogo já começou com a nova carta na mesa.
O artigo é de Eliane Cantanhêde, articulista da Folha de S.Paulo (desde 1997), em Brasília. Ela já escreveu para “O Globo, “Jornal do Brasil”, “O Estado de São Paulo” e “Gazeta Mercantil”. O seu “Casa de Zumbis” de hoje está irretocável. É um retrato qualificado da boa observação do nosso mundo político nos dias atuais e que não está apenas Brasília. Eliane e seus leitores, é a parte de outro Brasil, o que discute, o que se esclarece, o que se contrapõe e que se estarrece pois é menor e não consegue influenciar o outro Brasil, cego, surdo (mas não mudo) dominado pelos políticos (repito, de todos os partidos) que ousam transformar mentiras e jogos da verdade. Leia-o e reflita.
BRASÍLIA – Na Presidência, José Sarney não tem condições de presidir sessão nenhuma, arrastando os pés tristemente do gabinete ao plenário sob uma nuvem de ostracismo. Sua voz e sua mão nunca mais vão parar de tremer na tribuna.
Na liderança do PT, Aloizio Mercadante é um fantasma dele mesmo, numa função fantasma. Líder de uma bancada subjugada pelo Planalto e que se desfez em pedaços e em intrigas, ele não fala mais para seus pares petistas, nem para a base aliada, nem para a oposição.
Na liderança do PSDB, o principal partido da oposição, Arthur Virgílio engaveta os seus discursos irados e recheados de um certo lustre intelectual para conviver hoje, amanhã e sempre com o depósito feito por Agaciel Maia para pagar hotel em Paris e com os milhares de reais que saíram do público para financiar o estudo privado de um amigo assessor.
Sarney, Mercadante e Virgílio são zumbis de um Senado zumbi. E não só do Senado, mas da política.
Sarney, o veterano de fala mansa e conversa agradável, não teve mais condições de eleger a filha Roseana ao governo do Maranhão e levou um suadouro de uma delegada negra e estreante nas eleições no Amapá. Enfraquecido em seus três feudos -o Maranhão, o Amapá e o Senado-, vai se agarrar desesperadamente a Lula, ao preço da aliança formal do PMDB com Dilma.
Mercadante, que se regozijava com a condição de senador mais votado do país, hoje já não dá para o gasto. Vêm aí as eleições para o governo de São Paulo, mas ninguém fala no nome do senador mais votado do Estado. Aliás, como veio o governo “do amigo” Lula, mas ninguém falou no seu grande assessor econômico para a Fazenda.
E Virgílio, uma ilha nos mais de 80% de Lula no Amazonas, entrou na política como jovem brilhante e está para sair como neurótico estridente e inconsequente. É um resumo cruel. Mas, infelizmente, verdadeiro.
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