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    "As obras do Ifet de Gaspar estão atrasadas em mais de nove meses para que nele os jovens possam se qualificar e estudar em 2010"
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    Álvaro de Campos

    Poema em Linha Reta

    Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó principes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

    *Álvaro Campos é um dos heterônimos de poeta e escritor português Fernando Pessoa.

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Um retrato dos 100 dias

Sei que a propaganda oficial faz coisas. Mas, qual é o retrato dos 100 primeiros dias do novo governo de Gaspar completados neste domingo?

Aquela foto publicada na capa do jornal Metas diz tudo. Depois de 100 dias de governo de Pedro Celso Zuchi, PT, e mais outros 35 de Adilson Luís Schmitt, PSB, foi desobstruído (e de forma precária) o acesso ao Arraial. Ufa!

Certamente nenhum secretário, vereador, padre, juiz, promotor, deputado, empresário, executivo, jornalista ou radialista (e nem o prefeito e sua vice) moram no Arraial.

Ah, é exagero? Afinal, era um fato execepcional e é fruto de uma catástrofe incomparável. É preciso paciência e compreensão, dirão os portavozes da enrolação. Eu sei. E não vou exigir nada que não seja possível. Vou apenas comparar, mais uma vez com o básico. Por que, Ilhota, com menos recursos e problemas semelhantes, todavia mais amplos e violentos resolveu tudo bem antes do que Gaspar?

As verbas e ajuda também faltaram a Ilhota como à queixa recorrente por aqui. Entretanto, penso pelos exemplos que colhi, sobraram a Ilhota liderança, prioridades, união, estratégia, determinação e civismo (ou vergonha na cara) e respeito com o cidadão.

Qual o retrato que Ilhota publicaria? Qual comunidade continua isolada ou pelo menos sem o mesmo acesso anterior à tragédia? Sem políticagens, mas com respeito e competência, os ilhotenses abriram caminhos, estradas, sensibilizaram, foram à luta e criaram soluções – e até uma entidade organizada no Baú formaram – para vencer os desafios e bem antes de Gaspar.

Quer outra de Gaspar? a Rua Antonio Benedito Amorim, a antiga Correnteza, alí no Belchior Baixo. Passem lá. Ela ainda está interditada sob uma montanha de barro que deslizou. E com um agravante, debaixo daquele barro todo ainda há um drama familiar insepulto: uma vítima que não foi achada.

Qual é o retrato oficial que o Município de Gaspar vai distribuir agora para publicar e esconder à falta de ações e resultados efetivos nestes primeiros 100 dias de governo? Acorda Gaspar.

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