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    "As obras do Ifet de Gaspar estão atrasadas em mais de nove meses para que nele os jovens possam se qualificar e estudar em 2010"
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    Álvaro de Campos

    Poema em Linha Reta

    Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó principes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

    *Álvaro Campos é um dos heterônimos de poeta e escritor português Fernando Pessoa.

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Esquerda Retrógada e o PT Trocam os Pés pelas Mãos

Hoje é Domingo. Um dia de (re)leituras especiais. Não vou escrever sobre Gaspar e os gasparenses. Não vou cansá-los. Vou fazer colagens. Como um preguiçoso num dia de descanso, depois da caminhada matinal, vou usar as ideias, a intelectualidade e as opinões dos outros. Todavia, advirto-os: indiretamente, Gaspar, o PT daqui (e de outras paragens), suas personagens, bem como a inércia (e a propaganda enganosa) da sua administração municipal, estão presentes.

Vamos lá. Finalmente, ao findar o governo pragmático do Luiz Inácio Lula da Silva (que é capaz de aliança acordo até com Judas na comparação bíblica que fez), a esquerda do atraso se manifestou, sinalizou e se associou à companheira, nascida na guerrilha, oriunda no PDT e hoje estacionada no PT, Dilma Rousseff. A esquerda resolveu retirar o manto da dissimulação (ainda bem) que lhe cobria. A esquerda, retrógrada sob todos os aspectos, trabalha contra ela mesma e os planos de se perpetuar no poder. Ou vocês leitores e leitoras não acham que este III Programa Nacional dos Direitos Humanos (fruto da tal Comissão da Verdade) não é um tiro no próprio pé dessa gente? Ainda bem que a intenção dessa gente começa ganhar as ruas e as conciências das pessoas da direita à esquerda, e neste caso particular, socialmente comprometida com os avanços.

E tudo issopor que? Porque temos ainda a liberdade de expressão agora sob clara ameaça.

Os militares chiaram. Compreensível. É da corporação. Há interesses controversos. Tocava-se numa ferida que teima em não cicatrizar. Também é certo saber o que de fato aconteceu, mas dos dois lados para a isonomia. Repentinamente, uma valanche de dúvidas. E logo em época de plena férias, de recessos etc. O agronegócio, o ministro da agricultura, a igreja, a imprensa e… Os caras (de pau) montaram uma supra constituição e ao modo deles. Só eles têm o direito de pensar e serem livres de qualquer nódoa, como um dia já pregou o próprio PT. Uma vergonha.

É uma cartilha. É um libelo com cheiro stalinista, autoritário, censor e que despreza a democracia, a dialética, a liberdade e as instituições formais que a sustentam. Esta cartilha tem o viés da verdade (absoluta), do constragimento e do pensamento único dos que se instalam no poder e se negam ao avanço e à conciliação.

Ampliando. Primeiro, o PT (e a esquerda que gravita com ele no poder) se igualou aos outros partidos e práticas políticas deploráveis que jurou nunca praticá-las para o saneamento e a construção de uma “sociedade exemplar”. Agora, quer dar lições a todos nós, manietando pensamentos, pensadores e propagadores dessa pluralidade. Bem deixa para lá. Como disse no primeiro parágrafo, como um malandro (no ócio e não afeito as espertezas) vou usurpar opiniões e colá-las para a reflexão de todos vocês.

Começo com o povo (a favor ou contra esta tal Comissão da Verdade). Aquele que escreveu cartas aos jornais e eles as publicaram nestes dois dias.
1.
“Grande parte do Brasil parece ter especial aversão à verdade. São raríssimos os casos de políticos e de outras figuras públicas que, confrontados com malfeitos, admitem a verdade e pedem desculpas. A grande maioria nega, nega tudo.
Agora estão os militares -e, aparentemente, junto o ministro Jobim- à beira de um ataque de nervos porque não querem nem ouvir falar na verdade. O que eles temem?
Julgamentos, expurgos?
Anos atrás, uma sul-africana, mulher de um desaparecido durante o regime de apartheid, disse uma frase emblemática na época da criação da Comissão de Verdade e Reconciliação: “Eu perdoo (os responsáveis pelo desaparecimento do marido). Não tenho problemas em perdoar. Mas a quem, e por quê?”. Será tão difícil levantar informações sobre o passado e distribuir pedidos de desculpas às vítimas? Será a verdade tão difícil?”
NINA DRAKE (São Paulo, SP)

2.
Manifestam-se contra o Programa Nacional dos Direitos Humanos a alta cúpula dos militares, a igreja, os ruralistas, daqui a pouco teremos a convocação da Marcha da Família com Deus e pela Liberdade. Esse pessoal é incansável.”
MARCOS ALEX A. DE MELO (Campo Grande, MS)

3.
“As principais violações dos direitos humanos são a morte violenta e a tortura. Por onde andavam os autores de tão inspirado plano de direitos humanos, que não conseguiram ver que no Brasil já se mataram aproximadamente 700 mil pessoas só neste governo (entre homicídios e acidentes no trânsito); e que só no Rio de Janeiro as polícias matam, por ano, três vezes mais que todas as mortes atribuídas às ações dos governos militares; que dezenas de milhares de pessoas são torturadas diariamente nos currais medievais em que se transformaram nossas prisões?
Sem respostas concretas a essas questões básicas, essa gigantesca carta ideológica de intenções já nasce desmoralizada, por pretender afetar o futuro sem olhar seu próprio passado, por olhar para os outros sem ver como maltratam suas próprias responsabilidades.”
JOSÉ VICENTE DA SILVA FILHO (São Paulo, SP)

4.
“Li, com atenção, os artigos de Kenarik Boujikian Felippe [“Justiça não é revanchismo”, “Tendências/ Debates”, ontem], favorável à revisão da Lei da Anistia, e de Guilherme Guimarães Feliciano [“Violar para resgatar?’], contrário à revisão.
A primeira fundamentou o seu artigo basicamente em um abaixo-assinado de notáveis; o segundo, na Constituição da República e no Código Penal. Fica a pergunta: busca-se o direito na opinião de pessoas ou nas leis? Com todo o respeito, a prevalecer o ponto de vista da primeira, não precisamos mais de leis, basta ouvir as ruas.”
NÚBIO DE OLIVEIRA PARREIRAS , juiz (Lavras/MG)

4.
“Leio que, além dos militares, agora as chamadas “forças religiosas” também desancam o 3º Programa Nacional dos Direitos Humanos (“Igreja também critica plano de direitos humanos de Lula”, Brasil, ontem). Isso aliás, já era esperado, conhecendo-se o caráter corporativista tanto da Igreja Católica como dos militares. Mas ambos vão ter que se enquadrar na democracia, queiram ou não.
As Forças Armadas terão que se curvar à vontade civil, pois não formam um governo à parte.”
GELSON MANZONI DE OLIVEIRA (Santa Maria, RS)

5.
“Merece apoio o 3º Programa Nacional dos Direitos Humanos, expressão clara do amadurecimento democrático do país.
A sociedade brasileira vem demonstrando cada vez mais a sua adesão a propostas e ações que visam respeitar e garantir os direitos de todos e de todas. Somente setores retrógrados se unem mais uma vez contra essas iniciativas: os militares e a Igreja Católica.
As mulheres brasileiras, inclusive católicas, não se submetem mais a ditames doutrinários que as impedem de realizar as suas vidas de forma digna e feliz. E aqueles que seguem outros credos religiosos ou são ateus exigem o respeito a um Estado constitucionalmente laico.”
REGINA SOARES JURKEWICZ , doutora em sociologia da religião (São Paulo, SP)

6.ELIANE CANTANHÊDE, articulista da Folha de S.Paulo em 10.01.2010
Quase unanimidade
BRASÍLIA – Raramente se veem uma causa tão apoiada quanto a dos direitos humanos e um plano tão desastrado quanto o de direitos humanos. O alvo eram os chefes e torturadores da ditadura militar, mas a metralhadora giratória atingiu, como mostrou o repórter José Casado, setores tão diversos quanto igreja, imprensa, TV, rádios, ruralistas, planos de saúde e o próprio Congresso Nacional.
Tão acostumados com planos quilométricos que não chegam a lugar nenhum, tão cansados de um ano de trabalho, às vésperas do Natal, tão viciados em privilegiar o detalhe e desprezar o conjunto, o fato é que cometemos todos -a imprensa, primeiro; a opinião pública, depois- o tremendo erro de não ler, não levar a sério, não medir as consequências. Como o próprio Lula.
Tudo o que restou do lançamento do plano foi a foto da ministra Dilma Rousseff sem a peruca.
Enquanto isso, os bastidores do governo ferviam. Jobim não assinou o plano, os comandantes militares ameaçaram pedir demissão, Tarso Genro pairou sobre a confusão, Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) sumiu. O governo se dividiu e, agora, com a leitura detalhada e as críticas à mostra, é a sociedade que está dividida. Há que melhorar e rever o que nem foi visto.
O plano é o principal e mais complexo problema que Lula enfrenta neste início de 2010, ano em que ele não deve bater de frente com velhos aliados da esquerda, nem virar as costas ao resto para, pretensamente, ficar ao lado deles.
Lula precisa de um pretexto para fazer meia volta, volver, cumprir a palavra com Jobim (Defesa) e satisfazer por tabela a tropa de descontentes, militares ou civis. E o pretexto é um viés stalinista e excessivamente amplo do plano.
Aliás, bem mais urgente e concreto do que discutir direitos humanos acadêmica e ideologicamente é agir: acabar já com a tortura de pobre em cadeias e penitenciárias.
Sem isso, o resto é tertúlia.

7. JANIO DE FREITAS, colunista da Folha de S.Paulo em 10.01.2010
O governo contra o governo

O NINHO DE COBRAS a que o governo deu o nome de Programa Nacional de Direitos Humanos, decretado por Lula em meio às festas de fim de ano, é um dos atos de governo mais tresloucados do pós-ditadura, senão o mais. Não pela variedade de temas e alvos que liga aos direitos humanos, mas por reunir tamanha variedade em um só decreto, que assim funciona como um disparador de ataques simultâneos, com o próprio governo como alvo, a partir de tudo o que é força e poder entre (ou sobre?) nós.
É suficiente notar dois dos muitos propósitos que o decreto junta à pretendida comissão da verdade -causa de imediata e extremada reação dos comandos militares-, para captar o desatino masoquista do governo: modificação das regras de renovação dos canais de TV, para dissolver as atuais concentrações e impedir novas, e criação de imposto específico sobre a grande riqueza pessoal.
Excetuadas as tolices como a classificação permanente dos meios de comunicação, segundo sua adesão aos direitos humanos, grande parte do decreto é uma antecipação do futuro, menos ou mais remoto. Hoje impraticável, considerada a força dos poderes que se confrontariam, a desconcentração de meios de comunicação é uma quase certeza aqui reservada ao futuro. As legislações dos Estados Unidos e de vários países europeus preveniram-se logo aos primeiros sinais do poder identificado nas concentrações. O endeusamento do “mercado”, ou vale tudo, nos anos 90 atenuou as restrições nos EUA, mas as limitações já estão outra vez em discussão. Na América Latina, território prioritário da concentração, o assunto está esquentando em diversas capitais.
Um exemplo interessante da importância desse tema foi deixado por Roberto Marinho. As divergências políticas levaram ao erro de obscurecer as qualidades de Marinho como condutor da empresa jornalística herdada dos pais. Alcançar o domínio do jornalismo impresso no Rio foi por muito tempo, claro, um dos seus sonhos, e agiu para isso com todas armas do capitalismo. Mas quando o “Jornal do Brasil”, conduzido por qualidades inversas, deu sinais de derrocada, Roberto Marinho preocupou-se talvez mais do que os donos do “JB”: não queria ficar sozinho na “grande imprensa” carioca, porque via nesse predomínio um estímulo a ideias antimonopolísticas nos meios de comunicação. Pelo mesmo motivo, ajudou Adolpho Bloch a fazer a TV Manchete, até que a nova TV entrou na seara das novelas e tornou-se concorrente direta.
Aumentar os serviços e diminuir o custo abusivo dos planos de saúde, restrições verdadeiras à influência do dinheiro nas eleições, a manifestação pública em questões polêmicas e de interesse da população são, entre outros, casos em que o teor do decreto antecipa o que virá, por certo, menos ou mais tarde. Mas, com a associação de intenções problemáticas feita pelo governo, o decreto não ultrapassa as barreiras conhecidas. E, se ficar por aí só para poupar Lula de recuos vexaminosos, será um fantasma inócuo, porque não se desdobrará nas leis que fariam do plano uma realidade.

Gaspar dos Feiticeiros Precisa de Um Bruxo. Será?

A bruxa parece está solta em Gaspar. Aprendizes de feiticeiros da nossa terrinha estão lançando suas palavras, receitas e pós mágicos por ai. E nós se divertindo, mas desconfiados das suas artimanhas e resultados.

Hoje é 31 de outubro, sábado, véspera do Dia de Todos os Santos, antevéspera de Finados. Hoje é dia de Halloween, o Dia das Bruxas. Todavia, isso só no imaginário popular, pois Halloween vem de Hallow Evening, ou Halloweve’s, ou ainda Noite Sagrada. Esta comemoração pagã e que se misturou à Cristã, remonta aos anos 600 na Gália e Grã Bretanha. Mas essa é outra estória que se conta e comemora nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. Aqui…

Z, a personagem do PT de Gaspar em seu e.mail (já arrependido e amendrotado com a repercussão) me chamou de bruxo. Ou seja, de prever e acontecer (e coisas ruins, segundo a ótica dele, para a atual administração). Pura bobagem como expliquei aos leitores deste blog (e a ele). Como eu tenho o senso da espacialidade, digamos assim, afeito ao exercício da estratégia, por longos anos, não sendo um partidário e não estando metido no problema e esquemas, consigo apenas ter uma visão melhor e mais equilibrada de quem olha o jogo de fora, sem qualquer tipo de torcida. Da arquibancada, é mais fácil dar palpites; de e se ter mais acertos do que os “jogadores” no próprio campo de jogo e pressionados pela galera torcedora e emotiva. Nada mais.

Bruxo mesmo são outros. E a jornalista e colunista da Folha de S. Paulo, Eliane Cantanhêde, na edição de domingo, dia 25 de outubro, foi no ponto sobre este assunto no seu artigo com o título “O Bruxo”. Como se vê, estou completamente fora desse tratamento. Agora também é certo que falta um ” O bruxo”, como o descrito pela colunista para a administração de Gaspar. Ah, isso falta. Dai culpar culpar os astros pelos resultados, é realmente falta de planejamento, ação, resultados e uma coordenação com visão macro para os objetivos (se os tiver).

Aliás, pensando bem, falta ou não um bruxo para a administração de Gaspar deslanchar? A última que inventaram para armar uma CPI para quem já estava morto, não é candidato a nada (mas pod ser se assumir o papel de perseguido, de vítima…) e tem dificuldades para se reeguer politicamente, é algo rizível, no mínimo.

Então vamos por partes. Primeiro quem é Eliane Cantanhêde a autora deste artigo?

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

Segundo, se deliciem com o belo artigo de Eliane:

BRASÍLIA – Para quem não sabe, ou não lembra, o general Golbery do Couto e Silva era um sujeito discreto, que raramente aparecia, mas tinha desenvoltura como ninguém e mandava como poucos durante a ditadura militar. Começou como mentor do SNI e acabou como agente da distensão duas décadas depois. Um “bruxo”, dizia-se.
Regimes vão, regimes vêm, e sempre há um bruxo mexendo peças e soprando ideias. Na era Lula, o bruxo é na verdade um carola baixinho, com a humildade dos que saboreiam intimamente o seu poder.
Nada se faz e se decide sem ele, especialmente nesses tempos em que o piloto e a pilota sumiram, voando de comício em comício por aí.
O bruxo da vez se chama Gilberto Carvalho. Por ele passam nomeações, projetos, decisões, articulações no Congresso, o ritmo das reuniões e as maldades. Desde a macro-questão até a graça e a desgraça de quem gravita em torno de Lula.
José Dirceu, o espaçoso, gostava de ostentar poder, e Antonio Palocci, o sonso, sonhava com o próprio poder. Ao contrário deles, Gilberto Carvalho tem intimidade com Lula e, ao que se saiba, não é candidato a nada; seu poder não emana do povo, emana de Lula e para Lula.
Na hipótese de transição para Dilma, certamente Dirceu e Palocci terão o seu lugar, mas o homem de Dilma, como hoje é o homem de Lula, será (ou seria) Gilberto Carvalho. Até como fiel depositário da cadeira para Lula em 2015. Para o bem ou para o mal.
Não custa lembrar seu embate cara a cara com os irmãos de Celso Daniel. Um falava branco, os outros falavam preto, todos com igual veemência, igual convicção. Logo, num dos lados havia um mentiroso quase patológico. Por uma causa? Ou por uma crença?
Agora, é rezar para que Gilberto Carvalho não faça as bruxarias na ordem inversa às de Golbery. Ou seja: que não tenha começado com a distensão (nos bons tempos do bom PT) e acabe criando SNIs.

Dois Brasis em Conflito de (des)Interesses

É Domingo. Dia frio. Chuva fina. Típico do inverno do sul. Acabo de ler todos os editoriais e as colunas de opinião (não o noticiário) de todos os principais jornais brasileiros (coisa da internet). Ufa. Há uma unanimidade. Estou até meio com medo. No twitter (herculano53) pelo andar da carruagem, já havia antecipado a minha conclusão. É impressionante como há dois brasis: o dos cidadãos e cidadãs razoavelmente informadas (e incrédulas) e das pessoas indigentes (no discernimento) e reféns da bravata, do palanque e da ameaça dos políticos quando os jogos de interesses do poder estão levemente ameaçados.

E elas (os ignorantes, alienados e ausentes de todos os tipos na cidadania) são maioria e os políticos (de todos os partidos) sabem disso. Por isso eles as manipulam, constrangem, ameaçam, vigam, dissimulam, subvencionam (com o dinheiro dos tributos de todos nós) e constroem poderes que resultam em fatos como o mensalão, dólares nas cuecas, privatizações e estatizações duvidosas, contratos, desvios éticos sem precedentes e à falta de punição à maioria deles.

O que parecia uma percepção, já tem uma linha de fundamentação. Uma pesquisa divulgada pelo Datafolha sem muito alarde há uma semana retrata isto: 22%, repito, um quarto dos entrevistados não sabia que o senador maranhense pelo PMDB do Amapá, José Sarney, estava encrencado e sob fogo cerrrado da dúvida. Eles, ao que parece, não foram atingidos (ou sensibilizados, na linguagem dos políticos) pela saraivada de notícias e comentários dos jornais, rádios, televisões e internet. Pior. Do restante (78%) que se dizia ter conhecimento do noticiário, mais da metade (53%) não sabia, repito, não sabia exatamente qual era ou é o mal se acometia ou se acomete sobre o Senador. E há liberdade de comunicação e expressão, apesar da censura imposta há 23 dias e ainda vigente ao jornal Estado de São Paulo. Ou seja, tem conhecimento de causa e razão o político que disse que estava se lixando para a opinião pública.

Voltando. O que falta então? Gente esclarecida para receber a informação, confrontá-la, analisá-la, julgá-la, propagá-la e melhor: fazer escolhas. Talvez seja esse o truque pela qual o nosso sistema educacional se enverede propositadamente num caos, num ente político (e ideologico) e pífio nos resultados, quando comparado até mesmo com Cuba. Os políticos ainda preferem lidar com uma massa de ignorantes, pedintes e subservientes. É mais barato, é mail fácil.Até na desgraça eles saem ganhando, criam discursos, mobilização e esmolas.

Da leitura de hoje dos jornais trago uma observação e um artigo para compartilhar e refletir. A observação é a de que José Dirceu, o pai da República sindical, do aparelhamento do poder a qualquer preço e do mensalão, escreveu um artigo (“Alternativa Verde?”) desqualificando o PV e colocando-o próximo aos interesses do DEM e do PSDB. É a tentativa de “abrir os olhos” da senadora Marina Silva (ex-PT), a corajosa, a que tem vergonha na cara e assim evitar a ida dela para o PV (como já sinalizou) e lá fazer estragos aos planos de 20 anos de poder que o próprio Dirceu desenhou para o PT (aliás, Sérgio Motta, fez isso também para o PSDB). O PV quer ser a terceira via entre o PSDB/DEM e o PT/PMDB/PP/PR/PTB/PSB. E isso, na visão de Dirceu, pode favorecer o PSDB e o DEM. Ou seja, o jogo já começou com a nova carta na mesa.

O artigo é de Eliane Cantanhêde, articulista da Folha de S.Paulo (desde 1997), em Brasília. Ela já escreveu para “O Globo, “Jornal do Brasil”, “O Estado de São Paulo” e “Gazeta Mercantil”. O seu “Casa de Zumbis” de hoje está irretocável. É um retrato qualificado da boa observação do nosso mundo político nos dias atuais e que não está apenas Brasília. Eliane e seus leitores, é a parte de outro Brasil, o que discute, o que se esclarece, o que se contrapõe e que se estarrece pois é menor e não consegue influenciar o outro Brasil, cego, surdo (mas não mudo) dominado pelos políticos (repito, de todos os partidos) que ousam transformar mentiras e jogos da verdade. Leia-o e reflita.

BRASÍLIA – Na Presidência, José Sarney não tem condições de presidir sessão nenhuma, arrastando os pés tristemente do gabinete ao plenário sob uma nuvem de ostracismo. Sua voz e sua mão nunca mais vão parar de tremer na tribuna.
Na liderança do PT, Aloizio Mercadante é um fantasma dele mesmo, numa função fantasma. Líder de uma bancada subjugada pelo Planalto e que se desfez em pedaços e em intrigas, ele não fala mais para seus pares petistas, nem para a base aliada, nem para a oposição.
Na liderança do PSDB, o principal partido da oposição, Arthur Virgílio engaveta os seus discursos irados e recheados de um certo lustre intelectual para conviver hoje, amanhã e sempre com o depósito feito por Agaciel Maia para pagar hotel em Paris e com os milhares de reais que saíram do público para financiar o estudo privado de um amigo assessor.
Sarney, Mercadante e Virgílio são zumbis de um Senado zumbi. E não só do Senado, mas da política.
Sarney, o veterano de fala mansa e conversa agradável, não teve mais condições de eleger a filha Roseana ao governo do Maranhão e levou um suadouro de uma delegada negra e estreante nas eleições no Amapá. Enfraquecido em seus três feudos -o Maranhão, o Amapá e o Senado-, vai se agarrar desesperadamente a Lula, ao preço da aliança formal do PMDB com Dilma.
Mercadante, que se regozijava com a condição de senador mais votado do país, hoje já não dá para o gasto. Vêm aí as eleições para o governo de São Paulo, mas ninguém fala no nome do senador mais votado do Estado. Aliás, como veio o governo “do amigo” Lula, mas ninguém falou no seu grande assessor econômico para a Fazenda.
E Virgílio, uma ilha nos mais de 80% de Lula no Amazonas, entrou na política como jovem brilhante e está para sair como neurótico estridente e inconsequente. É um resumo cruel. Mas, infelizmente, verdadeiro.

Incoerências e Incoerentes

Aqui neste espaço tenho me dedicado a mostrar incoerências e incoerentes. Desde já, digo-lhes que é algo que me atormenta a mim mesmo. É difícil. E por conta disso, vivo em constante processo de mudança para diminuir as minhas falhas e às tentações para a incoerência. O ser humano é indomável: prega mas resiste ao próprio conselho que aconselha.

A incoerência é algo ampliado às entidades e para as pessoas públicas, pois delas se esperam a dita coerência como exemplo.no mínimo. Prega-se uma coisa e na prática, pratica-se outra. E é ai que a coisa pega. Nos últimos dias venho escrevendo e pontuando algumas incoerências fundamentais do Partido dos Trabalhadores. Aqui em Santa Catarina e em Gaspar, especialmente, há quem já tenha me rotulado de estar conspirando ou de ser contra o PT (o mais radicais, afirmam que isso me é peculiar desde criancinha). Patrulha. Bobagens. Constrangimentos dos idiotas.

Voltando. Contra os fatos não há argumentos. Os fatos são públicos, claros e é nesta hora que o PT e outros políticos expostos detestam a imprensa, a oposição ou os observadores livres. Os argumentos de defesa são frágeis, incoerentes; são os argumentos dos que perderam a bandeira, mas têm a obrigação segurá-la porque usufruem do Poder e seus vícios, vícios tão bem combatidos há pouco tempo pelo próprio PT, seus dirigentes e seus militantes.

O affair escândalo Sarney é exemplar. Expõe o partido, divide o partido, mostra quem é o presidente Luís Inácio Lula da Silva e as entranhas expúrias para se ter e se manter no Poder. Lula luta por Sarney porque não quer ver a devassa na CPI da Petrobrás. Se não a quer (e diz que ela existe exatamente para exploração política e deixar à mostra o seu governo) é porque deve. Lá como aqui, concluios para longe do povo, mas com os votos do povo pois tudo deve ter legitimidade.

Para não ir longe, vou fazer algumas colagens de um jornal que os petistas já endeusaram. Hoje eles o colocam sob dúvidas só porque a Folha se mantém coerente à liberdade de expressão, investigação e opinião. A manchete e os “olhos” da principal reportagem política desta terça-feira são:

Líder do PT não fala pela bancada do PT, diz governo. Para Múcio, pedido de licença de Sarney feito por Mercadante é ato isolado de “um ou dois”. Lula teme que renúncia do presidente do Senado coloque PMDB e PT em lados opostos e divida a base aliada na CPI da Petrobras. Sim agora nem líder o PT tem? O portavoz da bancada é um maluquinho? Vale o que diz a líder do governo, a nossa Ideli Salvatti que acha Sarney intocável?

Na mesma edição da Folha de S.Paulo de hoje, a colunista Eliane Cantanhêde, é didática sobre isto no artigo que ela escreveu na página dois sob o título: É ou não é?. Coerente.

Lula até tem razão quando pede cuidado com a biografia de investigados e relativiza os crimes: “Uma coisa é você matar, outra coisa é roubar, outra coisa é você pedir um emprego, outra coisa é relação de influências, outra coisa é o lobby”, disse.
Ok. Realmente, Sarney empregar o namorado da neta no Senado não é igual a roubar e matar. Mas…
É justo uma família tão rica fazer favores com dinheiro público? E os outros quase 40 familiares e apadrinhados (ao que se saiba) que os Sarney empregaram por aí?
É admissível uma associação dita beneficente e com o sugestivo nome de Amigos do Bom Menino das Mercês repassar recursos de patrocínio cultural para a Fundação José Sarney? Especialmente sendo ambas ligadas à família?
É razoável que o primogênito, Fernando Sarney, seja simultaneamente secretário de Energia do Maranhão e dono de uma empresa fornecedora de postes de concreto para a mesma secretaria?
É verdade que Sarney é sócio da neta numa empresa (que tem sede na casa dele em Brasília) para comprar terras onde há indícios de gás e petróleo? O que há de causa e efeito entre a empresa, as terras e as nomeações de Sarney para o Minas e Energia e a Eletrobras?
É a serviço da oposição ou da mídia que a PF e a Receita estão fazendo essas devassas?
E o que dizer do estado de calamidade pública do Maranhão depois de meio século de domínio dos Sarney e de seus paus-mandados?
O promotor de Justiça Jorge Alberto de Oliveira Marum, de Sorocaba (SP), envia e-mail querendo entender a preocupação de Lula com umas biografias e não com outras: “Se o acusado é adversário do PT, podemos acusá-lo à vontade, como foi feito com Collor (1992), Ibsen Pinheiro, Eduardo Jorge, Yeda Crusius etc. Se ele for aliado do PT, como Collor (2009), Renan, Sarney e outros, não devemos tratá-los como pessoas comuns. É isso mesmo, senhor presidente?”.
Taí. Boa pergunta.