Sob o título “Manchete II”, comecei assim a primeira das três notas na minha coluna “Olhando a Maré”, sempre publicada nas edições das terças-feiras do jornal “O Cruzeiro do Vale”: “Collor derrota Ideli”.
Não inventei nada. É uma constatação. É uma percepção pública e acessível a qualquer um e principalmente à equipe da Senadora. Basta uma simples clipagem nos principais jornais e revistas da semana e lá estão as manchetes, as análises ou os conteúdos de mesmo tom.
Está ai um sinal para uma reflexão à senadora Ideli Salvatti, PT, virtualmente candidata ao governo de Santa Catarina nas próximas eleições. Ela foi derrotada no Senado com ajuda do próprio guru, presidente Luís Inácio Lula da Silva, PT, a quem Ideli foi, como líder, sempre um cão feroz e a alma de defesa de muitas coisas, inclusive as indefensáveis. Defendeu e defende uma base complicada e movida a interesses, muito deles, inconfessáveis. O ex-deputado Roberto Jeferson, PTB RJ, e o senador Jarbas Vasconcelos, PMDB PE, cada um ao seu tempo e modo, que o digam.
Resumindo. Neste episódio da manchete e tema da análise, a Senadora foi traída. Esta é a palavra apropriada. É algo próprio do estômago do político. Por isso, há uma regra de ouro entre todos: o bom cabrito não berra, espera a volta e a vez. E foi em nome desse grande esquemão de apoio ao Poder ora instalado que usufrui o PT, Lula, a base aliada e a própria Senadora que se deu a sua derrota. Então, pensa-se, Ideli vai esperar à volta.
Trocando em miúdos. Há uma tradição no Senado e ela tentou “quebrá-la”, para no fundo ter o poder, demonstrar força e comemorar. Disfarçadamente justificou que era para “retribuir acordos”. Nada disso. Foi apenas uma tentativa de por uma cortina de fumaça e diminuir o impacto da derrota. Ela jogou e perdeu para o grande esquema que um dia o PT – e ela Ideli – condenou e jurou combatê-lo, mas que agora o “incorpora” para se manter uma peça chave do Poder.
Nada de novo. É história. A antropologia, a sociologia e a psicologia explicam.
Esclarecendo. Os vencedores José Sarney AP, como presidente do Senado, e seu articulador, o duvidoso mas podereso Renan Calheiros AL, ambos do PMDB, selaram o ex-presidente da República e de triste memória, o carioca Fernando Afonso Collor de Mello, PTB-AL, na presidência da comissão de Infraestrutura, uma das principais do Senado. Ideli ao ser candidata à presidência da referida Comissão queria, vejam só, ”retribuir” ao PSDB os votos de rebeldia de última hora que os tucanos deram a Tião Vianna, PT-AC, na disputa que elegeu Sarney. Alguém acredita nisso? Sim: os ingênuos, os mal informados e os derrotados na montagem do disfarce. Arrumou-se uma brecha para se legitimar no desejo.
Por isso, Ideli se quiser ser candidata a governadora de Santa Catarina com reais chances, acredita-se, precisa incorporar sabedoria, estratégia e o senso das estadistas ao seu arsenal do bom e ardiloso combate. Precisa se legitimar. Seria então prudente, ficar longe dessas jogadas para a plateia.
Para alguns analistas, a Senadora continua sindicalista, ativista e com compromissos de curto prazo. Enrola, culpa ou não os cumpre porque não depende exclusivamente dela o resultado final. Compreensível, mas cria o risco. É uma guerreira incomum e como poucos. Sou testemunha. Ela é inteligente, mas centralizadora, vingativa como o velho PT e o ativismo; sua equipe é submissa e as vezes desorganizada. Fica-se a impressão que não a ajuda neste novo desafio estratégico de enxergar longe, transparecer confiança e criar parcerias.
Antes, todavia, entendem, é preciso mudar a percepção torta ou correta que pode-se ter dela. É preciso construir. E se ela não rever o estilo e o resultado, a manchete da semana passada poderá se repetir em outubro de 2010. A pretensão de governar Santa Catarina é essencial para o PT catarinense, nacional e à biografia da própria Senadora.
Ideli continua no palanque. As vezes, ela se impressiona com novos amigos (uma praga perigosíssima que vive ao redor e do Poder para dele apenas usufruir ou bajular). Noutras, a Senadora passa a sensação de estar se distanciando dos velhos companheiros; em outros momentos ela se expõe desnecessariamente. O PT e a Senadora sabem que o Sul e Santa Catarina são mais seletivos, digamos. É só analisar os resultados das últimas eleições. É história. É estatística. São ondas. E a própria Senadora já se beneficiou dessa característica, estatística e onda.
A paulista que começou a sua militância por Joinville, explodiu a partir de Florianópolis na ação social, sindical e política; sustentou-se no Vale do Itajaí. Perdeu os aneis como Blumenau, Indaial e Itajai; reconquistou Gaspar e ganhou Brusque. Entretanto, nada comparável a Joinville, seu saudoso começo, seu novo reduto.
Fala-se até que será de lá o seu possível vice, um empresário, Udo Döhler. Respeitável. Entretanto, tudo pode não passar de pirotecnia, ensaios, associação de imagem, abertura de canais e agrados. Primeiro o PT não precisa de empresário para vencer. Nem como fonte de apoio financeiro. Não é do script, do PT e seu fundamentalismo. E se empresário fosse bom, o PT e seus candidatos não os combatiam tanto quando estão em campanha ou em palanque. Depois, o PT não deveria perder a sua autenticidade, o seu discurso, o seu caminho, mais do que já perdeu nacionalmente. A escolha aleatória de um empresário é apenas um jogo de cena para se abrir certas portas, associar imagens e ampliar um arco de simpatizantes fora da ideologia e da militância.
Isto já aconteceu aqui no Vale do Itajaí. Udo Döhler e a Acij – Associação Empresarial de Joinville – deveriam conversar antes por exemplo com Ricardo Stodieck, da Acib; Samir Buhatem, da Acig e o próprio Alcântaro Corrêa, da Fiesc. Há o tempo do namoro, há o tempo das juras, há o tempo das reciprocidades, há também o tempo do dolorido by pass, há o tempo da geladeira, há o tempo da vingança e há o tempo da ausência.
Muitos por aqui ainda não esqueceram aquela visita do presidente Lula no Sesi, em Blumenau, em meio ao turbilhão dos pedidos para atenuar os reflexos do desastre ambiental de Novembro. Naquele dia os empresários ou seu representantes foram segregados, longe de qualquer contato. É que a assessoria esqueceu deles, alegou-se
Concluindo: também há tempo para refletir e mudar. E haverá então tempo para vencer. E Ideli não é nenhuma neófita. Conhece como poucos bastidores e Poder.
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