Hoje vou ser frívolo, mas ao mesmo tempo revelar uma angústia. Minha? Não. De uma maioria “silenciosa” ou anônima. É uma realidade. E isso precisa mudar. Acorda, Gaspar.
Comecei a escrever neste blog apenas em Janeiro do ano passado. É que o espaço da coluna “Olhando a Maré”, no novo projeto gráfico do jornal Cruzeiro do Vale, foi-me reduzido pelos editores Gilberto Schmitt, Sandro Galarça e Fernanda Pereira. E eles estavam certos. E era hora de mudar mesmo. No jornal, eu precisava ser mais direto, conciso e trabalhar com “pílulas” para ser entendido. E dentro deste novo contexto, o blog veio como um complemento ao próprio jornal, ao portal, à coluna e principalmente permitiu uma abordagem mais profunda e até livre dos parâmetros editoriais do jornal.
Quebrei vários tabús na comunidade e no jornalismo local, e que não mais existem há muito tempo para os grandes veículos e em outros centros. Tudo se sabia, mas entre poucos e em diversas versões na nossa aldeia. Hoje, alguns desses temas passam pelo meu blog “Olhando a Maré”. Pautam discussões na comunidade. E as personagens do nosso cotidiano e envolvidos nas tramas e histórias reveladas aqui, reclamam, odeiam, amam ou aplaudem. Tudo conforme o gosto e interesse momentâneo, repito, momentâneo, de cada um. Comunicação que se presume ser isenta e séria, é assim. É dialética, vigia e expõe os entes públicos nas suas ações, decisões e resultados. Entretanto, este será motivo para um outro comentário.
Voltando. De Janeiro de 2009 para cá, a leitura vem aumentado gradativamente segundo a ferramenta própria que conta e que hospeda o blog, a internacional wordpress. Ou seja, não é uma fraude ou uma propaganda enganosa. O blog se tornou um braço de atualidade, opinião, maturidade e credibilidade do jornal Cruzeiro do Vale. A participação dos internautas aqui e alhures também cresceu muito. Tudo se multiplicou. Todavia, um fato vem me chamando a atenção. O número de e.mails, bilhetes, cartas de conhecidos e anônimos que me alertam para os desvios, acontecimentos ou me suportam com documentos que atestam irregularidades e desvios.
Eles não interagem com o blog, mas como a minha conta de e.mail privada. Por que? Porque temem a aprovação automática do comentário no blog, da denúncia e assim com o fato público, com origem identificada, se tornarem alvos não no contraditório (e que seria natural), mas na ameaça, no constragimento, na humilhação, no prejuízo, na desqualificação e na perseguição pessoal, profissional, política e empresarial.
Parece estranho, mas é verdade. Isto existe. Isto acontece de fato. Eu próprio tenho experimentado este sabor amargo. Nas conversas pessoais que tenho, nos telefonemas e nos e.mails, documentos e informações verídicas e checadas que são me oferecidas ou recebo a pedido meu, invariavelmente há sempre uma recomendação de se preservar o sigilo da fonte. E vai mais além. De que se tenha cuidado extremo de não dar pistas de quem conduziu e se permitiu à transparência de algo que deveria ser público.
No jornalismo, o anonimato é possível. Contudo, recomenda-se que isto não seja uma prática contumaz. Ora, por que um veículo, um jornalista, um colunista, um articulista ou um blogueiro deve sempre ele ficar exposto e não o cidadão ou a cidadã que sofre o ato descriminatório e em nome da sociedade quer vê-lo banido, questionado ou exposto? Por que o uso rotineiro da credibilidade e até coragem do veículo ou do profissional em nome de um grupo que aparentemente está sendo prejudicado ou vai ser favorecido?
Em Gaspar, a desculpa recorrente para esse comportamento é a perseguição política e administrativa que deriva do aparelho público. A falta de confiança na Justiça, na lei, nos instrumentos de proteção ao cidadão e cidadã. É isso mesmo. E não falo desta administração municipal, não como alguns desavisados podem pressupor. Refiro-me a todas mais recentes, pois é delas que me falam e exemplificam. É assustador. Pois é isso que revelam os contatos e a minha experiência com a cidade que remontam há mais de 30 anos. É história.
Penso que ai está o nó da questão. Uma sociedade, uma comunidade só amadurece, evolui e se fortalece de verdade com contrapontos visíveis. Quem se esconde, acovarda-se só contribui para o caos e para o próprio prejuízo. Ideias são para ser expostas e debatidas. E divergir e convergir são atos necessários e da mesma origem para quem é grande no pensar, no conciliar, no integrar e no agir em favor de uma comunidade lúcida, sem medos e medrosos. Só em estados totalitários, onde o poder de uma elite ou de um grupo é a essência da sobrevivência, é que se trai, se delata, se alcagueta, ou se persegue e se pune de forma marginal quem tem a lei e o bom senso como um norte de suas ações.
É hora de repensar tudo isso. É hora de mudar. Não existem líderes anônimos. E numa sociedade na qual não se renova as suas lideranças, ela se esfacela, se enfraquece e perde para si própria. Ninguém ganha nada se escondendo e temendo, inclusive os do poder temporário. Acorda, Gaspar.
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