A realização nestes 14, 15 e 16 de maio do WTTC -World Travel & Tourism Council – no Costão do Santinho, em Florianópolis, é algo que ultrapassa os limites da compreensão da maioria dos catarinenses e brasileiros. É excepcional. Além do trabalho e perseverança, é um golpe de sorte para Santa Catarina, o governador Luís Henrique da Silveira e os seus secretários de Turismo, Cultura e Esporte, Gilmar Knaesel e o Especial de Articulação Internacional, Vinicius Lummertz da Silva. É a primeira vez que isto acontece no Brasil. É uma nova, real e atual chance para os olhos dos que verdadeiramente decidem roteiros e oportunidades na chamada indústria turística. É a porta profissional para se “descobrir” a diversidade brasileira além dos locais internacionalmente já marcados como Rio, Cataratas do Iguaçu e Amazônia.
Mas, não é sobre isto que eu gostaria de comentar. A babação e o gol de placa estão estampadas em toda a mídia. Justas as comemorações dos organizadores.
O que é turismo? É a surpresa, é o encantamento, é o serviço, é a superação, é o sonho, é acima de tudo percepções boas e ruins. Será que o Brasil está preparado para isto? Não. Não vou me ater ao Brasil, vamos ao nosso cantinho, o litoral catarinense e o Vale do Itajaí. Também não vou escrever sobre as dificuldades e incoerências ambientais – um capítulo à parte. Exemplos não faltam como quando se nega licença para um empreendimento – por modificar a paisagem e colocar em risco águas – mas no mesmo local se fecha os olhos para o surgimento de uma favela. Escreverei sobre o básico. Escreverei sobre percepções de turista que sou esporadicamente, não apenas na Europa e a América do Norte, mas em países em desenvolvimento e subdesenvolvidos ou no próprio Brasil (com “z” e “s”)
Belezas naturais temos de sobra.Tomemos um item apenas: praias. Não vou falar de caminhos para se chegar até elas, nem de infra-estrutura em geral. Veja. É possível atrair alguém se as condições de balneabilidade e controle são duvidosas? E há empresário e politico que culpam a imprensa por divulgar a realidade. Defenderiam melhor o nosso patrimônio comum, os seus empreendimentos, o futuro dos negócios, os municípios, as pessoas se eles exigissem e implantassem saneamento básico, inspecionassem o funcionamento pleno desses equipamentos, promovessem a educação ambiental, bem como a mudanças de hábitos que comprometem a qualidade de vida das nossas cidades e recantos. Ao invés de vender falsamente belezas naturais como mero gigolôs delas, poderiam vender saúde, vida e até cobrar mais por esse agregado diferencial.
Pobreza, sujeira e falta de segurança não combinam com turismo e turistas. Antes, é preciso gerar renda, ter programas sociais eficazes e promover a educação. Cadeia e repressão não são soluções duradouras ou mitigadoras. Como turista posso lhes garantir que não existe coisa mais assustadora para alguém fora da sua cidade do que a sensação de que está em um ambiente inseguro, sendo tratado como um trouxa à espera da hora do melhor bote. Pior, quando você sabe que não há a quem recorrer. E neste item, tomo como exemplo Balneário Camboriú.
No Brasil sabe-se que não se pode abrir um mapa em locais públicos para se orientar ou se descobrir. É a senha para a vulnerabilidade. Pedir informações, pode ser o começo de um pesadelo. A segurança pública em Santa Catarina se deteriorou de tal forma que, para quem mira o turismo como fonte de atração e renda, é algo preocupante, muito preocupante. Foi-se a inteligência, o estratégico e até o tático. Sobram desculpas, improvisações, emergências, reuniões e a política partidária para disputar o poder de algo que se deteriora (?).
Não vou escrever do sistema público de saúde. Sim, por quem viaja, precisa dele para as emergências. E uma grande parte dos viajantes de hoje são idosos. As vezes, a disponibilidade e a qualidade é a diferença entre a vida, uma sequela irreparável e a morte. E no Brasil, a burocrata e ineficiente saúde pública joga contra a sociedade, imagine-se com o turista.
Também não vou mencionar à falta de orientação (em português) nas estradas, nas cidades ou na diminuta rede física de informações para aqueles que não têm acesso a internet durante as viagens. Menciono então algo básico nos hotéis referenciados: se um turista falando espanhol tenta se comunicar, na expressiva maioria dos casos, é uma enrolação só. E se o estrangeiro – de qualquer nacionalidade – tenta se comunicar em inglês básico, o desastre é completo. E se fala e se gasta ainda na atração do turista estrangeiro. Primeiro vem o básico: a comunicação, a qualidade, a sinalização, a segurança e a saúde, as quais produzem percepções favoráveis, que recomendam e criam roteiros sustentáveis.
A comunicação é a essência da percepção. Se nela, primária e fácil de ser corrigida, falhamos, por que queremos atrair o mundo para nós? Para mostrar as nossas deficiências as quais esconderão as nossas belezas naturais? Então o que estamos esperando? A mesma coragem que tivemos para trazer o WTTC para Santa Catarina, temos, no Brasil e em Santa Catarina, que nos estruturar para permanecer neste jogo. Um jogo de muito futuro para a sociedade e à natureza preservada.
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