Esta análise foi tema da minha coluna “Olhando a Maré” da terça-feira, dia 19 de maio. Aqui a reproduzo na sua essência. Lá estou limitado pelo espaço físico. Aqui amplio as minhas observações.
A Segurança Pública está fora de controle em Gaspar. Por que? Falta-lhe uma ação coordenada da sociedade organizada. Está sobrando desculpas, escaramuças e política (não a de Segurança, é claro). Isto vai nos complicar e custar a qualidade de vida (que já se deteriora a olhos vistos) no futuro. Se houver remédio, ele será mais caro e dolorido dos que as ações preventivas. Exemplos não faltam a começar pela estatística. Implacável. Estamos complacentes aos sinais. Além disso, os tempos são outros (a educação falha, falta de oportunidades aos jovens, a quebra dos valores morais, a falta de efetiva punição, a Lei morta, as drogas etc).
O prédio da Delegacia de Polícia é prometido há três anos. Inventaram até uma forma de construí-lo com um “segundo imposto” da comunidade (o primeiro fica no governo do estado que deveria usá-lo para a construção). É o velho truque: é o imposto do medo, da possível solução, da ausência do estado. Enrolaram. Não é viável, descobriram. Antes é preciso mudar a Lei. E quem a prometeu, o secretário da Segurança e Defesa do Cidadão (?) quando esteve aqui, Ronaldo José Benedet, não se mexeu para mudá-la.
Sete viaturas boas (e compradas com recursos locais) ficaram paradas pela própria burocracia do estado (estavam com multas e que o Deinfra não as regularizava); outra viatura ficou enterrada cinco meses nos escombros da catástrofe de Novembro ao lado do quartel. Alegam que já estava sucateada. Além disso faltavam-lhes um laudo da Defesa Civil para mexer no escombro. Denunciado o caso, desenterram-na em horas. Por que esse descaso? Falta de fiscalização da comunidade. Quando a houve, houve também a resposta.
E a prometida passagem do Pelotão da PM para Companhia? Era uma forma de aumentar o efetivo. Sairia em questão dias. Esqueceu-se. Está enrolado. Paliativos têm de sobra. Vem ai o sistema de Câmeras para o Centro da Cidade. Boa iniciativa. Pago com o dinheiro suplementar dos gasparenses. Para aumentar a segurança? Pode ser. Se for usada como uma ferramenta auxiliar sem disputas entre a PM e a Cilvil. Mas no fundo, vem para esconder um problema que não se resolve, não se debate: a falta de efetivo da PM em Gaspar.
E os Conselhos de Segurança? Sobrecarregados, começam a agir no vácuo da ação pública. Pressionam. Ensinam. No Rio de Janeiro, por exemplo, a ausência do Estado neste assunto crucial para a sociedade permitiu o surgimento das chamadas Milícias. De solução viraram um outro problema incontrolável, tanto quanto o banditismo. E por que se evita, sempre, o tema a construção de um presídio para o nosso município? Acorda Gaspar.
De prático, nesses dias, só a melhoria da patente do comandante da PM local. Festa de prestígio em Brusque. O retrato do mundo do faz de conta entre autoridades e lideranças. Quem sofre são os que precisam do serviço e de segurança. Adair Alexandre Pimentel, agora é Capitão. Enquanto isso, Blumenau, com a liderança da centenária e respeitada Acib – Associação Comercial e Industrial – e outras entidades, pressiona e faz a parte deles. Se eles resolvem o problema de segurança deles lá, os bandidos vêm para cá dormir, sobreviver, se organizar e aterrorizar. Os marginais, melhor do que outros, sabem que aqui estamos divididos. Unidos, lá em Blumenau o governador Luís Henrique da Silveira, PMDB, em pessoa, veio para arbitrar.
Quando se resolve o problema de Blumenau, sobra para Gaspar, Timbó, Pomerode e Indaial: mais marginais; mais insegurança se não houver uma contrapartida no efetivo, na estratégia, na integração das ações táticas, de inteligência e operacionais. Mais do que nunca neste assunto temos que pensar e agir como região metropolitana. Todavia, nada é coordenado. Presentes na discussão de Blumenau, apenas o presidente da Acig – Associação Empresarial de Gaspar – Samir Buhatem e como observador, o Delegado Paulo Norberto Koerich. Pouco. Muito pouco. Lá deveriam estar o prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, o presidente da Câmara, José Hilário Melato, PP, o presidente da CDL, Hélio Oliveira, da Ampe, José Eduardo de Souza, deputados que nos representam etc. Buhatem e Koerich assistiram as cobranças claras e o ganho de Blumenau. Não o que ela queria. Mas, o que o secretário Benedet e o comandante geral da PM, Coronel Eliésio Rodrigues enrolava.
Especialistas em segurança são unânimes em afirmar que quando se misturam política partidária e Segurança Pública, está feita a fórmula perfeita para o desastre da área. Quem perde somos nós cidadãos e cidadãs. Este é talvez um dos maiores erros do governo Luís Henrique num assunto tão crucial para ele e para a sociedade. Tanto na Polícia Civil como na Militar a politização minam conceitos, projetos, resultados e até hierarquia militar (veja o movimento da Aprasc). Nem mesmo os ganhos do atual governo nesta área, com números excepcionais e soberanos, conseguem esconder esta incômoda fragilidade imposta pela tal governabilidade, ou arte de se equilibrar nos interesses da sustentabilidade política do governo.
Ronaldo José Benedet é antes um deputado estadual, do PMDB. Não um técnico. Quando esteve em Blumenau enfrentou saias justas por conta disso. A passagem por Gaspar não foi diferente. E não foi a primeira vez que isto aconteceu nas suas peregrinações. A escassez de recursos, a limitação legal e as mudanças do cenário dos delitos e do crime são as desculpas que permeiam o seu discurso. Tolerável, mas não aceitável. Entretanto, uma incômoda comparação que usou em Blumenau deveria nos preocupar sobremaneira: a de que a situação por aqui não era tão pertubadora assim, se confrontada com outras regiões. Era só o que nos faltava. Nos comparar com o irresponsável caos de outras regiões para justificar a cumplicidade oficial nas falhas para conosco.
O secretário Benedet foi mais longe. Mostrou-se um teórico sensato. Reconheceu que o assunto não é fácil, muito menos para um político que depende de votos. Disse que leu a entrevista de Ricardo Balestreri, secretário nacional de Segurança Pública brasileira publicada na segunda-feira da semana passada. As idéias de Balestreri é a sua referência sobre o assunto. Parabéns. Balestreri foi direto. Classificou a Segurança Pública um desastre no Brasil. Para ele, é necessário que gestores ajam mais com “cérebro e neurônios” do que com “fígado e bílis”. Então, o que está faltando? Para encurtar, publico na íntegra esta entrevista no artigo abaixo para os que têm interesse de complementar o que escrevo aqui em cima.
Leitores, leitoras. Segurança é um assunto tão sério em Gaspar e no Vale do Itajaí que não pode ser apenas da Acig, do seu presidente e de algumas pessoas preocupadas com isso. Deve ser da CDL, da Ampe, do Lions, do Rotary, da maçonaria, OAB, Câmara, associações de bairros, da imprensa e principalmente do governo municipal. Repito:é o futuro que está em jogo. Segurança não deve ser tratada no Comtur – Conselho Municipal de Turismo – como vem sendo, mas no Conseg – Conselho de Segurança – ou no Furebompom – Fundo de Reaparelhamento dos Bombeiros e da Polícia.
A PM só pede equipamentos e é atendida. A sociedade precisa da contrapartida: efetivo, ações, resultados e segurança. Antes, todavia, precisa-se ter um plano de metas e liderança para coordená-lo em nome de todos nós. Falta fiscalização. Falta coragem (Blumenau tem, por isso conquista, evolui). Tudo acontece sob o medo, a pressão ou à compreensão. Os bandidos de hoje e de amanhã agradecem.
E para encerrar este artigo, algo para a reflexão e não para marcar culpados. Há poucos dias o presidente da Câmara, José Hilário Melato, PP, cobrava formalmente uma ação mais efetiva da PM para a proteção do patrimônio dos lojistas contra roubos e arrombamentos que aumentavam na cidade. Ficou exposto. Na imprensa, o presidente da CDL, Hélio de Oliveira, garantiu que tudo estava “as mil maravilhas”. É dessa divisão que os bandidos e a secretaria de Segurança precisam. Não se trata apenas de patrimônio, mas de vidas e de se evitar sequelas emocionais.
A boa notícia. O contato de Buhatem e Koerich com Delegado Geral Maurício Eskudlark, em Blumenau, prometeu-se emergencialmente dez policiais civis para Gaspar. Seis chegaram nesta quinta-feira, dia 21. Hoje são 14 policias e dois delegados para as necessidades de Gaspar e Ilhota. A notícia ruim. Koerich foi promovido e pode estar saindo de Gaspar. Acorda Gaspar.
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