• Arquivos

  • Contagem Regressiva

    "As obras do Ifet de Gaspar estão atrasadas em mais de nove meses para que nele os jovens possam se qualificar e estudar em 2010"
  • Poemeta

    Álvaro de Campos

    Poema em Linha Reta

    Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó principes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

    *Álvaro Campos é um dos heterônimos de poeta e escritor português Fernando Pessoa.

  • Meta

O PT de Gaspar é de Direta

O procurador do Município, Mário Wilson Mesquita, agora investido de filósofo e cientista político, esclareceu este colunista e blogueiro sobre dúvidas que eu nunca tive ou sabia que eu as tinha: “O PT de Gaspar é considerado pelas lideranças estaduais como sendo de direita”. Eu, heim? Isto existe? Jamais questionei esse negócio de direita e esquerda na administração de Gaspar. Aliás, para mim ser de direita ou de esquerda não leva a lugar nenhum. Não enche barriga de ninguém, não traz soluções e ainda justifica ou máscara a falta de iniciativa, de ideias, ações e a preguiça de muitos.

O que o senhor Mesquita quis me dizer com isso? Que eu sou da direita? E que só na direita é que tem déspotas, ditadores, incapazes e gente que come criancinhas? Ele precisa se informar mais e melhor sobre mim, sobre política, filosofia, história, antropologia e realidades. Se é para me constranger e desmoralizar, faz parte do jogo de poder a que o PT está acostumado para nele se manter. Veja o que acontece no Senado, por exemplo, para não ir longe no tempo e nem se circunscrever à nossa aldeia.

O povo quer e precisa de resultados; quer as promessas e os sonhos de campanhas políticas cumpridas ou realizados; quer ver as ações em seu favor, quer melhorias sociais e estruturais de forma concreta e permanente. Ele tem fome, sede, frio e precisa de dignidade mínima. O cerne dos meus questionamentos não é propriamente contra o PT. É apenas uma fiscalização ( e parece quen isso os incomoda) ao poder seja ele em que partido estiver. É do poder que emanam as decisões em favor do povo, do eleitor, dos que democraticamente consagraram as escolhas para o exercício do poder e a seu favor.

E nos meus questionamentos, normalmente estão na incoerência, na propaganda (eivada de incorreções para os desiformados), na dissimulação, na esperteza e no compadrio do poder, como aquele feito no acordo entre quatro paredes, onde o procurador foi o artífice operacional para consagrar algo fora do pedido jurídico (o tal Interdito Proibitório) para, em nome do município e do poder, permitir a construção de um muro e fechar a Rua Cecília Krauss ao povo e assim dar privilégios a poucos. E o rosário é grande e ele sabe muito bem disso.

Se é para filosofar não sou eu quem vai fazer isso. Sou um colador de coisas dos outros. Seleciono apenas. Sou leitor contumaz. Não sou um profeta. Não sou a verdade, nem a luz. Sou um reles, mas penso. E tem muita gente que faz isso também para desespero do PT que está no poder . O partido que combateu e combate essa realidade nos outros (o que é certo no meu entendimento), na prática é igualzinho. Faz da coisa pública um grande aparelho de vantagens. Veja o que eu encontrei na edição de domingo da Folha de S.Paulo na coluna da Danuza Leão sob o título “Quem tem medo da doutora Dilma?”. Pior, este assunto começa ficar recorrente. Parece ser uma onda, o que é um perigo também. O artigo da Danuza finaliza assim:

“Lembro de quando Regina Duarte foi para a televisão dizer que tinha medo de Lula; Regina foi criticada, sofreu com o PT encarnando em cima dela – e quando o PT resolve encarnar, sai de baixo. Demorei um pouco para entender o quanto Regina tinha razão. Hoje estamos numa situação pior, e da qual vai ser difícil sair, pois o PT ocupou toda a máquina, como as tropas de um país que invade outro. Com Dilma seria igual ou pior, mas Deus é grande. Minha única esperança, atualmente, é a entrada de Marina Silva na disputa eleitoral, para bagunçar a candidatura dos petistas. Eles não falaram em 20 anos? Então ainda faltam 13, ninguém merece. Seja bem-vinda, Marina. Tem muito petista arrependido para votar em você e impedir que a mestra em doutorado, Dilma Rousseff, passe para o segundo turno”.

Esse “mestra em doutorado” é ironia da Danuza, pois é um dado falso do curriculo da Dilma. Como se vê é uma prática dos da direita e dos da pura esquerda. Afinal, em que lado estavam Luiz Fernando Poli, Bernardo Leonardo Spengler, Andreone dos Santos Cordeiro e Adilson Luiz Schmitt? Acorda Gaspar.

Para os que se interessam pelo artigo da Danuza, ai vai ele inteiro para a compreensão contextual

VOU CONFESSAR: morro de medo de Dilma Rousseff. Não tenho muitos medos na vida, além dos clássicos: de barata, rato, cobra. Desses bichos tenho mais medo do que de um leão, um tigre ou um urso, mas de gente não costumo ter medo. Tomara que nunca me aconteça, mas se um dia for assaltada, acho que vai dar para levar um lero com os assaltantes (espero); não me apavora andar de noite sozinha na rua, não tenho medo algum das chamadas “autoridades”, só um pouquinho da polícia, mas não muito.
Mas de Dilma não tenho medo; tenho pavor. Antes de ser candidata, nunca se viu a ministra dar um só sorriso, em nenhuma circunstância.
Depois que começou a correr o Brasil com o presidente, apesar do seu grave problema de saúde, Dilma não para de rir, como se a vida tivesse se tornado um paraíso. Mas essa simpatia tardia não convenceu. Ela é dura mesmo.
Dilma personifica, para mim, aquele pai autoritário de quem os filhos morrem de medo, aquela diretora de escola que, quando se era chamada em seu gabinete, se ia quase fazendo pipi nas calças, de tanto medo. Não existe em Dilma um só traço de meiguice, doçura, ternura.
Ela tem filhos, deve ter gasto todo o seu estoque com eles, e não sobrou nem um pingo para o resto da humanidade. Não estou dizendo que ela seja uma pessoa má, pois não a conheço; mas quando ela levanta a sobrancelha, aponta o dedo e fala, com aquela voz de general da ditadura no quartel, é assustador. E acho muito corajosa a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, que está enfrentando a ministra afirmando que as duas tiveram o famoso encontro. Uma diz que sim, a outra diz que não, e não vamos esperar que os atuais funcionários do Palácio do Planalto contrariem o que seus superiores disserem que eles devem dizer. Sempre poderá surgir do nada um motorista ou um caseiro, mas não queria estar na pele da suave Lina Vieira. A voz, o olhar e o dedo de Dilma, e a segurança com que ela vocifera suas verdades, são quase tão apavorantes quanto a voz e o olhar de Collor, quando ele é possuído.
Quando se está dizendo a verdade, ministra, não é preciso gritar; nem gritar nem apontar o dedo para ninguém. Isso só faz quem não está com a razão, é elementar.
Lembro de quando Regina Duarte foi para a televisão dizer que tinha medo de Lula; Regina foi criticada, sofreu com o PT encarnando em cima dela -e quando o PT resolve encarnar, sai de baixo. Não lembro exatamente de que Regina disse que tinha medo -nem se explicitou-, mas de uma maneira geral era medo de um possível governo Lula. Demorei um pouco para entender o quanto Regina tinha razão. Hoje estamos numa situação pior, e da qual vai ser difícil sair, pois o PT ocupou toda a máquina, como as tropas de um país que invade outro. Com Dilma seria igual ou pior, mas Deus é grande.
Minha única esperança, atualmente, é a entrada de Marina Silva na disputa eleitoral, para bagunçar a candidatura dos petistas. Eles não falaram em 20 anos? Então ainda faltam 13, ninguém merece.
Seja bem-vinda, Marina. Tem muito petista arrependido para votar em você e impedir que a mestra em doutorado, Dilma Rousseff, passe para o segundo turno.

“Professores Brasileiros Precisam Aprender a Ensinar”

Hoje eu deixo as picuinhas caseiras e lanço um desafio ao futuro. Educação é um tema e uma preocupação recorrentes nas minhas andanças. Como não sou especialista na área, tenho me socorrido de ideias e trabalhos alheios. E se o tema é um problema do Brasil, é um problema também da nossa aldeia. Há dias mostrei uma entrevista de uma experiência bem sucedida em São Paulo e sob o título “O Estado Só Me Atrapalha”. Agora, mostro uma entrevista feita pelas repórteres Maria Cristina Frias e Roberta Bencini, ambas da Folha de S. Paulo, com o economista americano Martin Carnoy.

A entrevista é muito interessante. E não deve ser vista como conclusiva, não. As observações do professor Carnoy são reflexo de uma pesquisa que ele fez comparando os ensinos cubanos, brasileiro e chileno. Ela é fundamental para o pensar e o repensar técnico na busca de resultados reais. Evoluimos, mas não o suficiente. Enquanto houver a políica partidária e linhas ideologicas no ensino, o rigor técnico é algoque beira o ridículo. Com isso, estão perdendo as nossas crianças, o país e a nossa inserção como capazes e competitivos neste mundo globalizado. Insistimos na escola política, ideologica, cheia de culpas, culpados e experiências. Uma escola que não atualiza e avalia o docente periodicamente como faz com os próprios discentes. Uma escola onde o discurso não se pratica como exemplo. Uma educação sem um norte, sem uma política técnica à ampará-la para os resultados (Em tempo: quais mesmos os resultados que se quer da escola brasileira para seus clientes?).

“Para o economista, é preciso supervisionar o que ocorre na sala de aula no Brasil; problema também afeta escola particular “, observaram as repórteres ao abrirem a entrevista publicada na edição de segunda-feira, dia 10 de agosto. Eis a reportagem e a entrevista na íntegra como ela foi publicada. Preste a atenção na primeira frase da primeira resposta e me diga se isto não acontece por aqui? E para encerrar: já escrevi anteriormente, é um crime, repito crime hediondo, cometido contra crianças e pais indefesos, contra o futuro delas e da nossa sociedade por políticos inescrupulosos, ansiosos por poder, por cargos, por partidos que aparelham tudo, inclusive o ensino, a educação. São os verdadeiros pais do desastre, da margilidade, da infância e juventude perdidas e da falta de perspectivas individuais dos adultos. Mas há chance para mudar.

“POR QUE alunos cubanos vão tão melhor na escola do que brasileiros e chilenos, apesar da baixa renda per capita em Cuba?” A pergunta norteou estudo do economista Martin Carnoy, professor da Universidade Stanford, que filmou e mensurou diferenças entre atividades escolares nos três países. No Brasil, o professor encontrou despreparo para ensinar e atividades feitas pelos alunos sem controle. “Quase não há supervisão do que ocorre em classe no Brasil.”
Para ele, o problema também atinge a rede particular. “Pais de escolas de elite pensam que estão dando ótima instrução aos filhos, mas fariam melhor se os colocassem em uma escola pública de classe média do Canadá.” Carnoy sugere filmar o desempenho dos professores. “Não basta saber a matéria. É preciso saber como ensiná-la.” Ele esteve no Brasil na semana passada para lançar o livro “A Vantagem Acadêmica de Cuba”, patrocinado pela Fundação Lemann.

FOLHA – O que mais chamou a sua atenção nas aulas no Brasil?
MARTIN CARNOY – Professoras contratadas por indicação do secretário de Educação do município, que dirigem a escola e vão lá de vez em quando; 60% das crianças repetem o ano, e professoras pensam que isso é natural porque acham que as crianças simplesmente não conseguem aprender. Fiquei impressionado, o livro [didático usado na sala de aula] era difícil de ler. Precisaria ter alguém muito bom para ensinar aquelas crianças com ele. Ficaria surpreso se qualquer criança conseguisse passar [de ano]. Vi escolas na Bahia, em Mato Grosso do Sul, em São Paulo, no Rio… [entre outros].

FOLHA – Qual a metodologia do estudo?
CARNOY – Como economista, usei dados macro para explicar as diferenças entre os países nos testes de matemática e linguagem. Fizemos análises com visitas a escolas e filmamos classes de matemática e analisamos as diferenças entre as atividades em classe. Há uma grande diferença, pais cubanos têm renda baixa, mas são altamente educados, em comparação com os do Brasil. O estudo foi finalizado em 2003 e depois comparamos Costa Rica e Panamá. Na Costa Rica, há coisas engenhosas, aulas com duas horas, em que se pode realmente ensinar algo. Supervisionar a resolução de problemas de matemática e, principalmente, discutir resultados e erros. Os alunos cubanos têm aulas acadêmicas das 8h às 12h30. Depois, almoço. Voltam às 14h e ficam até as 16h30, quando têm uma sessão de TV por 40 minutos. A seguir, artes e esportes, mas com o mesmo professor.

FOLHA – Ter o mesmo professor durante quatro anos (como os cubanos) é uma vantagem?
CARNOY – Quatro anos, pelo menos. Mas os alunos não mudam de um ano para outro. No Brasil, se alunos e professores mudam muito de escola, como fazer isso? Se a ideia é tão boa, se funciona, deveríamos fazer algo para que pelo menos professores não mudassem tanto.

FOLHA – Qual a sua avaliação sobre a proposta da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo que vincula o aumento de salário à permanência do professor na mesma escola e à aprovação em testes?
CARNOY – Sugeri ao secretário Paulo Renato que acrescentasse um teste: filmar o professor, como no Chile. Professores de outra escola avaliam os videoteipes. Professores podem ser bons nos testes, mas péssimos para ensinar. Se você tiver um professor experiente que foi bem ensinado a ensinar e teve um bom desempenho com os alunos, a diferença é visível em relação a uma pessoa sem experiência, como eu. Profissionais que viram as fitas disseram que há grande diferença entre o professor cubano e o brasileiro.

FOLHA – A Secretaria da Educação pretende oferecer curso de treinamento de professores de quatro meses. Em Cuba, dura 18 meses, para o nível médio. O que é importante num treinamento?
CARNOY – [Em Cuba] São oito meses para a escola fundamental. Mas são para os professores que não foram à faculdade. Você deve se lembrar que houve escassez de professores, com o incremento do turismo, que atrai pelo pagamento em dólares. Tiveram de produzir muitos professores, muito rapidamente. Então, pegaram os melhores estudantes do ensino médio e lhes ofereceram cinco anos de universidade nos finais de semana. O que é importante nesses cursos de treinamento é ensinar como dar o currículo, como ensinar matemática. O Estado deve estabelecer padrões claros, como na Califórnia. Isso é o que tem de ser ensinado em matemática no terceiro ano. No Chile, há um currículo nacional, mas não ensinam aos estudantes de pedagogia como ensinar o currículo.

FOLHA – O sr. dá muita importância ao diretor…
CARNOY – E também à supervisora, que em muitas escolas no Brasil não fazem nada, não entram em sala. Em Cuba, diretores e vice-diretores ou supervisoras assistem às aulas. Nos primeiros três anos de serviços de um professor, eles entram muito, ao menos duas vezes por semana. São tutores que asseguraram que a instrução siga o método e o nível requeridos pelos padrões estabelecidos.

FOLHA – Os bônus a professores, como ocorre no Estado de São Paulo, são um bom caminho?
CARNOY – Não há boas evidências de que esse sistema de estímulo funciona. O modelo usado em São Paulo, em que todos os professores ganham mais dinheiro se a escola atingir a meta, pode funcionar. Tentaram isso na Carolina do Sul, no final dos anos 80. Foi um grande sucesso por poucos anos e, depois, deixou de sê-lo porque não houve mais melhora. Eles só atingiram um certo limite e não conseguiram mais progredir. Há o efeito inicial do esforço e depois, quando as pessoas têm que saber melhor como aprimorar o desempenho dos alunos, nada acontece. E não existe mais na Carolina do Sul. O que tem sido feito, em geral, nos EUA não é bônus, mas punição. Se a escola fracassa em atingir a sua meta em três anos, como na Flórida, os estudantes podem receber vouchers e frequentar escolas particulares, em vez de públicas. A forma como estão fazendo em São Paulo não é a melhor. Eles medem neste ano como a segunda série aprende e, no próximo, quanto a segunda série aprende. Mas não os mesmos alunos. Escolas pequenas têm mais chance de receber bônus do que grandes. Se a escola cai, não há punição. Só não recebe bônus. Não estou defendendo punição, só digo que eles [bônus] são mal mensurados. Você pode fazer como em São Paulo, mas não dar bônus todo ano, e sim a cada dois anos. E aí poderá ver o que se ganhou com os alunos que se mantiveram na escola e ter as médias, mas com as mesmas crianças através das séries. O problema da falta de professores é mais grave porque é sobretudo um absenteísmo autorizado, não é ilegal. Em Cuba, professores e alunos faltam pouco. É tudo controlado.

FOLHA – Melhorar o ensino público provocaria uma avanço na educação como um todo, inclusive nas escolas particulares?
CARNOY – Pais de escolas de elite pensam que estão dando ótima instrução aos filhos, mas fariam melhor se os colocassem em uma escola pública de classe média do Canadá. Mesmo os melhores docentes brasileiros são menos treinados do que os de Taiwan. Os melhores professores no Brasil têm em média desempenho abaixo da média do professorado de países desenvolvidos. Investir e melhorar a escola pública, que é a base de comparação dos pais, elevaria o resultado das melhores escolas particulares também. Professores são bons em pedagogia, mas não no conhecimento a ser ensinado. Não treinam muito matemática e não sabem como ensiná-la.

FOLHA – O que do modelo cubano não pode ser transposto considerando que Cuba vive sob ditadura?
CARNOY – Há, de fato, uma falta de criatividade [no ensino]. Não se pode questionar, ser contra a Revolução. Mas as crianças sabem que estão aprendendo o esperado. São bons em matemática, sabem ler bem e aprendem muita ciência, mesmo nas escolas rurais ou de bairros urbanos de baixa renda. O Brasil tem a capacidade de enfrentar esses problemas [ter crianças bem nutridas, com bom atendimento médico]. Por que em uma sociedade com uma renda per capita que não é tão baixa não se faz isso? Acho que tem de ser construído um sistema de supervisão, com pessoas capazes de ensinar e treinar novos professores a ensinar. Os professores no Brasil estudam muito linhas de pedagogia e menos como ensinar. Podem esquecer tudo aquilo de Paulo Freire, um amigo. Devem ler sua obra como exercício intelectual, mas queremos que professores saibam ensinar.

FOLHA – Não é possível conciliar na América Latina bom ensino com autonomia, democracia?
CARNOY – A melhor escola é a que tem professores com democracia. Mas temos de ter um acordo de quais são os nossos objetivos. Tony Alvarado é um supervisor em Manhatan que trocou metade dos professores e dos diretores para melhorar a qualidade das escolas. Ele disse aos professores: “Este é o programa. Vão implementá-lo comigo ou não? Têm uma semana para pensar. Se não quiserem, são livres para sair”.

FOLHA – No Brasil seria mais difícil…
CARNOY – Seria muito mais fácil! Um quarto do professorado muda de escola todo ano! Em Nova York, não se demitiu. Alvarado mandou-os para outros bairros. Precisa, no início, de um certo autoritarismo. Porque alguém tem de dizer o que fazer no início. E depois, sim, há uma democracia. Os diretores devem se preocupar com os direitos das crianças. Em Cuba, é o Estado. Aqui, os sindicatos de professores preocupam-se com os direitos dos associados – e estão em certos em fazê-lo. Mas e as pobres crianças que não têm sindicatos para defender seus direitos à educação?

Incoerências e Incoerentes

Aqui neste espaço tenho me dedicado a mostrar incoerências e incoerentes. Desde já, digo-lhes que é algo que me atormenta a mim mesmo. É difícil. E por conta disso, vivo em constante processo de mudança para diminuir as minhas falhas e às tentações para a incoerência. O ser humano é indomável: prega mas resiste ao próprio conselho que aconselha.

A incoerência é algo ampliado às entidades e para as pessoas públicas, pois delas se esperam a dita coerência como exemplo.no mínimo. Prega-se uma coisa e na prática, pratica-se outra. E é ai que a coisa pega. Nos últimos dias venho escrevendo e pontuando algumas incoerências fundamentais do Partido dos Trabalhadores. Aqui em Santa Catarina e em Gaspar, especialmente, há quem já tenha me rotulado de estar conspirando ou de ser contra o PT (o mais radicais, afirmam que isso me é peculiar desde criancinha). Patrulha. Bobagens. Constrangimentos dos idiotas.

Voltando. Contra os fatos não há argumentos. Os fatos são públicos, claros e é nesta hora que o PT e outros políticos expostos detestam a imprensa, a oposição ou os observadores livres. Os argumentos de defesa são frágeis, incoerentes; são os argumentos dos que perderam a bandeira, mas têm a obrigação segurá-la porque usufruem do Poder e seus vícios, vícios tão bem combatidos há pouco tempo pelo próprio PT, seus dirigentes e seus militantes.

O affair escândalo Sarney é exemplar. Expõe o partido, divide o partido, mostra quem é o presidente Luís Inácio Lula da Silva e as entranhas expúrias para se ter e se manter no Poder. Lula luta por Sarney porque não quer ver a devassa na CPI da Petrobrás. Se não a quer (e diz que ela existe exatamente para exploração política e deixar à mostra o seu governo) é porque deve. Lá como aqui, concluios para longe do povo, mas com os votos do povo pois tudo deve ter legitimidade.

Para não ir longe, vou fazer algumas colagens de um jornal que os petistas já endeusaram. Hoje eles o colocam sob dúvidas só porque a Folha se mantém coerente à liberdade de expressão, investigação e opinião. A manchete e os “olhos” da principal reportagem política desta terça-feira são:

Líder do PT não fala pela bancada do PT, diz governo. Para Múcio, pedido de licença de Sarney feito por Mercadante é ato isolado de “um ou dois”. Lula teme que renúncia do presidente do Senado coloque PMDB e PT em lados opostos e divida a base aliada na CPI da Petrobras. Sim agora nem líder o PT tem? O portavoz da bancada é um maluquinho? Vale o que diz a líder do governo, a nossa Ideli Salvatti que acha Sarney intocável?

Na mesma edição da Folha de S.Paulo de hoje, a colunista Eliane Cantanhêde, é didática sobre isto no artigo que ela escreveu na página dois sob o título: É ou não é?. Coerente.

Lula até tem razão quando pede cuidado com a biografia de investigados e relativiza os crimes: “Uma coisa é você matar, outra coisa é roubar, outra coisa é você pedir um emprego, outra coisa é relação de influências, outra coisa é o lobby”, disse.
Ok. Realmente, Sarney empregar o namorado da neta no Senado não é igual a roubar e matar. Mas…
É justo uma família tão rica fazer favores com dinheiro público? E os outros quase 40 familiares e apadrinhados (ao que se saiba) que os Sarney empregaram por aí?
É admissível uma associação dita beneficente e com o sugestivo nome de Amigos do Bom Menino das Mercês repassar recursos de patrocínio cultural para a Fundação José Sarney? Especialmente sendo ambas ligadas à família?
É razoável que o primogênito, Fernando Sarney, seja simultaneamente secretário de Energia do Maranhão e dono de uma empresa fornecedora de postes de concreto para a mesma secretaria?
É verdade que Sarney é sócio da neta numa empresa (que tem sede na casa dele em Brasília) para comprar terras onde há indícios de gás e petróleo? O que há de causa e efeito entre a empresa, as terras e as nomeações de Sarney para o Minas e Energia e a Eletrobras?
É a serviço da oposição ou da mídia que a PF e a Receita estão fazendo essas devassas?
E o que dizer do estado de calamidade pública do Maranhão depois de meio século de domínio dos Sarney e de seus paus-mandados?
O promotor de Justiça Jorge Alberto de Oliveira Marum, de Sorocaba (SP), envia e-mail querendo entender a preocupação de Lula com umas biografias e não com outras: “Se o acusado é adversário do PT, podemos acusá-lo à vontade, como foi feito com Collor (1992), Ibsen Pinheiro, Eduardo Jorge, Yeda Crusius etc. Se ele for aliado do PT, como Collor (2009), Renan, Sarney e outros, não devemos tratá-los como pessoas comuns. É isso mesmo, senhor presidente?”.
Taí. Boa pergunta.

O “Novo” Código de Ética do PT

O Partido dos Trabalhadores nasceu um partido diferente. Vendeu a imagem de diferente, puro. Com o tempo e o Poder, infelizmente, mostrou-se igual a todos os outros. Na verdade, as instituições são livres de suspeitas e têm intenções insuspeitas e quase perfeitas. Quem as estraga são os homens e mulheres, seres imperfeitos mas que buscam da perfeição. E é nesta busca que nasce o Poder, a deterioração e os mesmos erros que a instituição disse combater. Assim aconteceu com o PT.

Mais que um código de ética escrito, o PT tinha um que não estava escrito, que vendeu pelas atitudes e denúncias e as pessoas acreditaram. Este era o verdadeiro valor do partido da mudança, do jeito novo de governar. Veio o Mensalão, os dólares nas cuécas, o caixa dois que chamaram de recursos não contabilizados, os “empréstimos” para os partidos filhotes, quase todos fora do arco de ideologia e crença do PT e dos petista, vieram as alianças, as incoerências e o abafa. Tudo pelo Poder.

Agora o PT tem um novo código de ética escrito. Todos os partidos têm essas coisas belas, mas escritas, esquecidas ou reavivadas em discursos nostálgicos. Todavia, a prática é bem outra. E é a prática que vale, que é percebida pelo eleitor e a eleitora. Todos os partidos e políticos sabem. Mas eles preferem o que está escrito. Leia a notícia sobre este assunto que a Folha de S. Paulo publicou hoje, quinta-feira, dia 23 de julho, sobre o assunto. A preocupação do Código de Ética do PT agora é também esconder as mazelas que podem macular a imagem de puro que ainda pensa ter. Inovador? Os outros já tentaram e perderam eleições e o Poder. Nada se esconde hoje em dia, mesmo nos grotões.

“PÓS-MENSALÃO

Novo código de ética do PT condena vazamentos à mídia
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Divulgado ontem em seu site oficial, o código de ética do PT proíbe a divulgação de fatos relativos a investigações contra seus filiados e considera “infração ética grave” o vazamento de informações à mídia sem identificação da fonte.
Se estivesse em vigor na época do mensalão, a “mordaça” petista impediria a divulgação de investigações contra o ex-tesoureiro Delúbio Soares, por exemplo. Ironicamente, foi o próprio episódio que serviu de inspiração para a criação do código, prometido há dois anos.
Em 73 artigos, o texto obriga a divulgação periódica na internet da lista de empresas que fazem doações ao partido. Não especifica, porém, sobre que intervalo. Fica proibido ainda arrecadar recursos para outros partidos, outra prática do mensalão.
O PT decidiu deixar claro o que deveria ser uma obviedade. “É vedada a arrecadação de recursos de qualquer natureza sem a respectiva e obrigatória contabilização do arrecadado, sob pena de configuração de infração ética de natureza grave”.
Várias exigências já haviam sido antecipadas pela Folha em janeiro, a partir de uma versão preliminar. Continua a obrigatoriedade de candidatos e postulantes a cargos de confiança apresentarem ao partido declaração de bens antes de assumirem a função. Petistas sob investigação interna ainda terão de abrir mão de seu sigilo pessoal. (FÁBIO ZANINI)

Reforma política ou golpe

Esses políticos brasileiros passaram da conta. Esta tal de lista feita entre amigos nos partidos retirando a escolha livre dos eleitores e eleitoras, mais o financiamento da campanha com o dinheiro que deveria ir para educação, segurança, obras, saúde entre muitas outras coisas, é algo que se assemelha ao banditismo, a coisa de mafiosos. Ou você acredita que além de tirar o dinheiro dos nossos pesados impostos eles não vão continuar extorquindo entidades e empresas para fazer um caixa dois e assim ter vantagens sobre outros candidatos que só receberão o dinheiro público? Acordem eleitores e eleitoras.

Será a República do compadrio. Das listas prontas. Dos mesmos. Do escárnio. Dos donatários. Das famílias constituídas para sacanear. Do ralo dos nossos tributos para suportar os nossos direitos desviado para a esbórnia eleitoral da mesma “casta” de políticos. E nós, obrigados, pelo voto obrigatório, a ratificar este teatro do abuso e absurdo e tudo sob o disfarce da democracia.

Leia esta carta escrita por Wilson Gordon Parker, de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro e publicada neste domingo no jornal Folha de S. Paulo. Ela é simples e esclarecedora. Faço dela, as minhas palavras. Pois neste momento elas me faltam, tamanha a sanha e coragem dos nossos políticos para nos ludibriar. Estou começando a ouvir vozes reais ordenando meu silêncio total. Elas avisam que a minha opinião não vale nada. Eu penso, estudo, trabalho, voto, pago impostos, mas não tenho opinião. Estou apavorado com a descoberta da minha total inutilidade. O deputado Sérgio Moraes, PTB-RS, diz que está se lixando para a minha opinião. Agora o presidente do STF, Gilmar Mendes, me chama de “sujeito da esquina”. Quem sou eu, afinal? Só existo como coisa pública para pagar .

Ângela ou Ideli?

A edição deste domingo do jornal Folha de S.Paulo “surpreendeu” o mundo político e os eleitores catarinenses. Segundo a pesquisa do acreditado Datafolha, a deputada e ex-prefeita de Florianópolis Ângela Amim, PP, nas três simulações feitas é a primeira na corrida para ser governadora em 2010. A festejada aniversariante (18.03 e comemorada no sábado) senadora Ideli Salvati, PT, apareceu em segundo – e longe – em duas simulações com Pinho Moreira, PMDB e Leonel Pavan, PSDB, este empatado. Na terceira simulação, Ideli nem chegaria ao segundo turno se a eleição fosse hoje. O prefeito de Florianópolis Dário Berger, PMDB, ganharia esta condição com Ângela.

Nem tudo é defintivo. Ainda faltou o ingrediente DEM e o senador Raimundo Colombo; os voos de renovação de Hugo Biehl, no PP; bem como a propalada aliança PP e PT; além da reedição ou não da tríplice aliança PMDB, PSDB e DEM.

Entretanto, é uma sinalização para os colunistas catarinenses que vivem comentando o mesmo há meses. Ouvindo os de sempre. Eles circulam nos mesmos ambientes de Poder, ou de seus pretendentes. Têm as mesmas fontes (e há anos); ensaiam pouco fora do mesmo círculo.

E a pesquisa ouviu as ruas, os grotões e não apenas as fontes de Florianópolis ou da mesma listinha de telefones.

O PT já sabia que a senadora Ideli Salvati precisa se preocupar com os seus atos, atitudes e os resultados. A imagem de ativista pode servir melhor a quem pleiteia uma vaga no parlamento, mas não ao executivo. É histórico. E a senadora tem esse currículo, o que não invalida o seu senso e a disposição de guerreira. A saída da liderança do Governo Federal já é uma sinalização para esta mudança. Todavia, Ideli vive e quase não administra um instinto de provocar e até de se vingar – e comemorar. É um palanque ambulante. Adora e usa com habilidade microfone, fotógrafos e colunistas para atacar, propagandear e defender causas (justas e injustas).

As pedras do novo desafio para a senadora, a sua equipe e o PT já foram temas aqui no meu blog em 10.03.09 sob o título “Ideli e o Futuro”. Não vou ser repetitivo. Nada mudou. A pesquisa apenas confirmou a análise e mais cedo do que se previa. Era uma observação. Não sou bruxo. Na política, o imponderável deve ser considerado sempre, mas não improvável. Ele é algo da construção, da percepção, é previsível e possível.

Então: surpresas? Nem tanto. Contudo, a notícia pública não poderia ter vindo em momento pior: logo após a comemoração do aniversário da senadora onde se pretendeu dar contornos de campanha e se trouxe para o evento os presidente da Fiesc, da Facisc e da Fecomércio para alavancá-la institucionalmente. A dita credibilidade no meio motor da economia. Aliás, nos bastidores da festa, entre os íntimos da senadora, já circulava e se escondia, a notícia que sairia horas depois na Folha de S.Paulo e que não lhe favoreceria.

Há muito tempo para se mudar todos cenários. E política é fascinante por isso. Hoje, com as mídias e as informações em tempo real, os jogos mudam as massas em questão de poucos dias, de horas até. Então, há tempo. Muito tempo para se rever e se estruturar.

A senadora vai ter que escolher entre ser incendiária ou ser bombeira. Numa situação ela é autêntica e eficaz. Em outra, falta-lhe técnica, equipe e credibilidade. E talvez reside ai a vantagem de Ângela, se a opção do eleitorado for uma mulher. A reflexão agora é do PT, da senadora e da sua equipe. A reflexão também é para os que dominam os cenários, visíveis e invisíveis, deste jogo em busca do Poder.