Os servidores municipais de Gaspar vão ao final da tarde de hoje (as 17h em primeira convocação e meia hora depois em segunda), na Sociedade Alvorada, para mais uma Assembleia. O objetivo, como se diz no linguajar sindical e dos partidos de esquerda, é dar “encaminhamento” as propostas do Sintraspug – Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público de Gaspar – e à contraproposta do Município.
Por enquanto, um jogo de surdos e mudos. Pantomima. Contudo, muitos entendem o enredo desta peça.
Ato um. O Sintraspug por meio do seu presidente Sérgio Luís Batista Almeida anuncia o pedido: 15% de reajuste e aumento real nos vencimentos dos servidores; mais R$220,00 no Auxílio Alimentação (que é de R$179,00). A contraproposta da administração de Pedro Celso Zuchi e Mariluci Deschamps Rosa, todos do PT, é seca (em ambos os sentidos); 1,5% e R$200,00 para a Alimentação. Era um recado político; era a tentativa de desmoralizar o Sindicato, dividir a sua diretoria e o movimento. Por isso, o “aviso” veio com um argumento conjuntural e econômico real e forte: crise econômica, queda na arrecadação e o aumento das despesas e obrigações por conta do desastre ambiental de Novembro. São fatos.
Ambos os lados exageraram. Até porque feitas as contas de todos os tipos, as perdas reais no período, computados os 1,5% (estes números 15 e 1,5, nesta história, parecem ser algo cabalístico) que o ex-prefeito Adilson Luís Schmitt, PSB, deixou de dar na sua administração e segundo ele, por questões legais do período eleitoral, giram ao redor de 7%. Para os olhos da maioria dos servidores, inclusive, 15% é demais, como soou menosprezo, zombaria e ridicularização os 1,5% ofertados na voz de Doraci Vanz, chefe de Gabinete, e funcionário público de carreira na área de Educação. A pesquisa ao lado, apesar de não ter cientificidade alguma, mostra isto.
Ato dois. Vem a paralisação e a concentração na praça Getúlio Vargas, defronte ao Paço e à sombra da figueira. Na prefeitura a ordem é esvaziar o movimento. E começa pelos diretores do Sindicato que têm cargos em confiança na atual administração orientados a segurar o seus subordinados nos locais de trabalho. Na Educação, todavia, a mobilização surpreende. O 1,5% ofertado vira combustível e indigna algumas lideranças petistas. Os argumentos econômicos do Município não se materializam. Alguns números surgem e colocam em dúvida esses argumentos. Então, nasce a ideia de se arbitrar o impasse na Justiça – aliás o melhor local para este tipo de assunto. E isto impacta no Paço. A paralisação, a participação de algumas lideranças da base aliada no movimento, as inquirições fortes de alguns “companheiros” e “companheiras” à atual administração municipal, bem como as fragilidades dos dois lados, mas principalmente do Município, ganham a mídia regional e acendem a luz amarela na prefeitura. É evidente o iminente desgaste político do PT, tanto para o prefeito Zuchi, a sua vice Mariluci, ela que quer ser candidata a deputada e para a própria senadora Ideli Salvatti, que quer ser candidata a governadora.
Feitas as análises, o Município resolve flexibilizar. Chama o Sintraspug para a renegociação. Ganha tempo. É tático. Ao mesmo tempo não se compromete com o médio prazo. A ordem é apagar o fogo agora. Despolitizar o ambiente. A proposta que vai hoje para a discussão atende principalmente os baixos vencimentos e que é a maioria na classe: 1. O piso passa de R$ 430,26 para R$ 520,00 (ele vai beneficiar os servidores que recebem o adicional de insalubridade e os agentes de Saúde); 2. O Auxílio Alimentação passa dos atuais R$ 179,00 para R$ 220,00. Mas é ai que mora o perigo. Esse benefício vai ser reduzido para R$200,00 em Setembro ou Outubro se houver uma nova possibilidade de reajuste dos vencimentos. É isso mesmo. Custa-me crer, a não ser que isto seja apenas para esvaziar o movimento neste instante. Pois senão, o erro é estratégico, penso. Ele posterga uma discussão social, difícil e desgastante, para mais próximo das sedimentações das candidaturas; 3. Por fim, o Executivo oferece 1,5% de reposição para este Maio e 1,5% para Julho, ou seja, dobrou a oferta. Com isso, reconheceu que errou feio na mão quando fez a primeira contraproposta. Entretanto, se enrola. Oferece mais 2,83% (mas não se compromete) para Setembro ou Outubro se as coisas melhorarem. Melhorarem o que? O humor? Os alinhamentos? Sério, será indicar desde já quais os indicadores de produtividade, financeiros, econômicos etc. que orientarão esta análise para se conceder, ou não, esta nova parcela de reajuste nos vencimentos; 4. Sobre o resíduo do período e a recomposição dessas perdas nada se falou, inclusive o Sindicato.
Ato três: a Assembléia Estraordinária de hoje. Estamos no intervalo.
Proscênio, bastidores e personagens. Doraci Vanz é o interlocutor do Município. Ele protege politicamente dos eventuais desgastes, próprios desses momentos, o prefeito Pedro Celso Zuchi e a sua vice Mariluci Deschamps Rosa. É do ofício. Mas Doraci é funcionário público de carreira. E o funcionalismo não perdoa o seu comportamento. Contudo, Doraci tem um papel: ele está Chefe de Gabinete e a sua função agora é defender a Administração e não o funcionalismo. Sempre foi assim. Quem tem que defender o funcionalismo é o Sindicato, políticos interesseiros ou interssados na causa etc. Para o presidente do Sintraspug, Vanz é o “todo poderoso” oniciente, onipresente e onipotente. E deve ser mesmo, pois não foi contestado ou substituído até agora por seu “chefe”. E não há nada de errado nisso.
Quanto levar o caso imediatamente para a Justiça há temores, dúvidas e divisões. O Município teme esta decisão contra si, tanto que imediatamente para esvaziar esta possibilidade resolveu fazer reuniões e uma nova contraproposta. Na Justiça, ela pode soar como algo razoável. No Sintraspug, esta ideia sofre resistência exatamente na sua área jurídica. Ela prefere a negociação, o desgaste político e a pressão via as paralisações, paralisações que prejudicam os cidadãos e cidadãs (e os mais humildes) nos serviços essenciais como creches, educação, saúde etc. Na Justiça alega-se, pode-se perder (é do jogo), demoraria, haveria muitos recursos e isto poderia desgastar ainda mais o presidente do Sindicato, além de passar uma sensação de vitória ao Município. Todavia, a decisão da Justiça, mesmo setenciada daqui a meses, ela seria retroativa e seria Lei. E provavelmente, justa e não política.
Quanto a politização do movimento, ela é evidente. Todos os movimentos reivindicatórios, infelizmente, têm esse viés. O prefeito Zuchi acusou o movimento de ser político, simplesmente pelo fato do presidente do Sintraspug, Sérgio Almeida, PR, ter sido candidato a vice na chapa com Ivete Mafra Hammes, PMDB. Eles perderam para Zuchi e Mariluci. Ficaram em terceiro entre cinco candidaturas. Politicamente Sérgio está em baixa, inclusive com os próprios servidores. Ele como representante de uma classe está no direito e no papel de pedir. O prefeito Zuchi, é que está enchendo a bola do Sérgio ao fazer a contraproposta que fez e ter que voltar atrás, tão rapidamente.
Ah, mas o adovogado do Sintraspug, Sérgio Hammes, é marido de Ivete? É. Para os que têm memória curta, lembro que Hammes é um petista histórico, já foi inclusive candidato a prefeito pelo partido. E é isto que incomoda alguns servidores que não conseguem enxergar e separar o profissional do político neste caso específico. Se fosse por isso, incomodaria muito mais Laércio Moritz, sócio do escritório de Hammes, experiente e conhecedor de todas as entranhas da Justiça do Trabalho e agora, sogro do secretário de Administração e Finanças de Zuchi, o Evandro Assis Muller (Soraia). Como se ve, a queixa de Zuchi não procede no uso político desse episódio por parte do Sérgio Almeida. Se fosse para valer, a recíproca parece estar a favor do PT e da administração municipal. Tudo se entrelaça em Gaspar e se separa no mesmo instante, se houver o profissionalismo. O palanque e o tempo das bravatas e promessas já passaram. Agora é hora do agir.
Então Ivete poderia se beneficiar da briga entre Zuchi e Adilson? Pode, se tudo continuar entre os mesmos. E este assunto não tem nada a ver com este artigo e o movimento dos servidores. É Zuchi quem promove Adilson. Basta ele mudar de bússola ou orientador. E só ele pode tomar esta decisão.
O que está claro no Sintraspug é a fragilidade do modelo que vige para o ocupação de cargos na sua diretoria. Dela participam nomeados em confiança na administração municipal. E ai a coisa pega. São incompatíveis. E são esses servidores, por questão de lealdade, obrigados à opção pela administração que os nomeou em cargo de confiança. E é por eles que começa o esvaziamento e a contra-informação do movimento reivindicatório. Está na hora de mudar o estatuto para se ter independência nas lutas pela classe e não se ficar ao sabor do poder político de plantão. A independência da representação do funcionalismo está ameaçada. Como se vê, mais uma vez, as queixas de Zuchi sobre uma guerra política contra ele e sua vice, têm pouca força.
Por fim, gostaria de mostrar números. São números do Sintraspug. Neles, se forem reais e numa análise superficial, a prova de que a situação não é tão ruim assim para as reivindicações que fazem. Agora é esperar para ver,
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