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    "As obras do Ifet de Gaspar estão atrasadas em mais de nove meses para que nele os jovens possam se qualificar e estudar em 2010"
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    Álvaro de Campos

    Poema em Linha Reta

    Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó principes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

    *Álvaro Campos é um dos heterônimos de poeta e escritor português Fernando Pessoa.

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“Biônicos” Chefiam 7.800 Cartórios, Diz CNJ

Sob este título, o jornal “Folha de S.Paulo” publicou na Sexta-Feira, dia 22.01, uma reportagem assinada por Flávio Pereira. É com ela que encerro este polêmico (aqui e alhures) assunto neste blog. Eu me interessei pelo caso de Gaspar e com exclusividade relatei aos meus leitores e leitoras aqui no blog e na coluna “Olhando a Maré”, no jornal Cruzeiro do Vale. Nada foi inventado. Entretanto, cheguei a ser fortemente contestado na razão que me movia a trabalhar este tema. As serventias de Gaspar já têm nomeados por concurso seus titulares, desde a semana passada. Leia: “Escolhidos os novos titulares dos cartórios de Gaspar”, postada no dia 16.01.2010

Nas rodas sociais daqui e profissionais do estado, tudo se sabia, mas, como sempre, era um tabu na imprensa local (como são outros temas públicos). Fui criticado pela iniciativa (não pela veracidade), entretanto, de forma democrática, com ela, toda a cidade ficou sabendo do tema, com detalhes (e a maioria gostou de ser informado). Deixou de ser privilégio de poucos. Esclareceu-se. O que aconteceu em Santa Catarina (e em Gaspar), está acontecendo no Brasil. Todos os que ocupavam as serventias sem concursos, sabiam ou sabem da precariedade ou interinidade da titularidade. Estava na lei que lhe deu este benefício desde 1988. E eles a conheciam muito bem, tanto que lutaram e lutam contra ela no âmbito Federal e Estadual.

Concluindo: corriam o risco, assumiram-no, mas agora, se fazem de vítimas depois de sobreviverem bem, durante a precariedade e a interinidade, sem o devido concurso, também previstas na lei.

Leia a reportagem na íntegra e veja o quanto complexo, explosivo e corporativo é este assunto para afrontar a Constituição por mais de 20 anos.

Conselho publica relação de cartórios administrados por pessoas não concursadas; tabeliães terão 15 dias para recorrer

Órgão começou a caça aos ‘biônicos’ no ano passado, quando aprovou a remoção dos titulares que assumiram cargos sem concurso público

FLÁVIO FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais da metade dos cerca de 14mil cartórios do país é administrada por não concursados. O número de titulares “biônicos” é de aproximadamente 7.800 pessoas, segundo levantamento feito pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
O órgão, responsável pelo controle administrativo e disciplinar do Judiciário, pretende determinar nos próximos meses que os tribunais estaduais realizem seleções públicas para preencher esses postos. O CNJ enviou à imprensa oficial uma relação dos cartórios de registro civil, de imóveis, de notas e de protesto comandados por não concursados, para que ela fosse publicada hoje no “Diário Oficial”. Após a publicação, os tabeliães e oficiais registradores terão um prazo de 15 dias para recorrer da inclusão na “lista negra”.
O trabalho do CNJ para retirar os “biônicos” da chefia dos serviços cartorários ganhou impulso nos últimos meses por conta da ameaça da aprovação pelo Congresso da PEC (projeto de emenda constitucional) nº 471, a chamada “PEC dos Cartórios”, que determina a efetivação dos não concursados nos cargos de titulares. A atividade cartorária tem natureza privada, mas é delegada a particulares pelo poder público.
Os cargos de titulares dos serviços são vitalícios e em geral a função é bem lucrativa. Um estudo do CNJ com base em dados de 2008 apontou que mais da metade dos cartórios do país arrecada mais de R$ 100 mil por ano, e dezenas deles geram uma renda superior a R$ 6 milhões no período.
O órgão começou a caça aos “biônicos” em junho passado, quando aprovou uma resolução que determinou a remoção de todos os titulares que assumiram os cargos sem concurso após a promulgação da Constituição de 1988. Esse texto legal permitiu que os não concursados continuassem nos postos em situação “precária” e “interinamente” até a realização de novas seleções para os cargos.
Em seguida, o CNJ pediu que os tribunais estaduais informas sem a situação de cartórios de seus territórios. A coleta e a análise de documentos enviados pelos tribunais terminaram nesta semana e permitiram a conclusão da lista dos cartórios com “biônicos”.
PEC dos Cartórios No final de setembro passado, ante a movimentação de congressistas para levar à votação o texto da PEC nº 471, o CNJ reagiu. O presidente do órgão e do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, chamou de “gambiarra” jurídica o projeto de emenda. O ministro Gilson Dipp, corregedor do CNJ, enviou uma nota técnica aos legisladores na q
ual afirmou que a PEC favorecia somente aqueles que “há anos se beneficiam indevidamente” da rendados cartórios. No começo de outubro, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), disse que ele e vários líderes partidários haviam encontrado “dificuldades jurídicas” no texto da PEC e anunciou o adiamento da votação do texto legal.
Porém, o projeto de emenda constitucional recebeu algumas propostas de alteração e quase foi levado a votação nos últimos dias de funcionamento do Congresso em 2009.