Santa Catarina é o melhor destino turístico no Brasil. E ganhou em 2009 este título pela segunda vez consecutiva. E é, mas pela diversidade e não, com certeza, pela qualidade e infraestrutura de acessibilidade, segurança e saneamento. Estamos vendendo sonhos, estamos atraindo e não estamos qualificando a estrutura pública (quando não gerando escândalos, como foi o caso da “árvore” de Natal na Capital) de recepção, acesso e suporte básico. Isto é um erro estratégico e operacional. Isto vai trabalhar, ou está trabalhando, contra nós.
Vamos pegar apenas um item, o verão e o litoral, onde a demanda se exagera e se lida com o irracional.
Aeroportos de Navegantes e Florianópolis. Num, os voos estão reduzidos (e por falta de segurança, com a construção e montagem dos guindastes do porto de Navegantes como alegam para isso as empresas); noutro, os acessos congestionados, perde-se voos; nenhum finger, todos chegam sob sol escaldante, calor extremo ou chuva impiedosa.
À qualquer praia (no norte ou sul do estado, ou mesmo na paradisíaca ilha de Santa Catarina) que você queira ir, é um drama. Começa pela sinalização dúbia (quando ela existe), passa por congestionamentos quilométricos, e esbarra na falta de estacionamentos. Quer mais? Locais sem a fiscalização da vigilância sanitária. Verdadeiras aberações contra a saúde do cidadão, do visitante fragilizado nas emergências públicas e dos hospitais.
Os policiais sumiram. Dizem que há câmeras (quando há) para compensar. Mas elas não inibem, não previnem, não substituem a percepção e a inteligência. Elas apenas gravam o ato infracional e às vezes, facilitam a identificação daquilo que já se tornou irremediável para as férias do cidadão, da cidadã e do visitante, o verdadeiro empregador, gerador de riquezas e tributos (extras) para nós. Os criminosos também viajam, fazem “turismo” e concorrem com os aqui estabelecidos. E assassinam, assaltam, sequestram, roubam, tungam.
Nas cidades e balenários, ninguém orientando o trânsito, facilitando, educando ou punindo os excessos e abusos. Só os radares terceirizados funcionando e fazendo a festa aos visitantes. Um cartão de agredecimento que chega no retorno. Um caos.
O lixo é a melhor senha da desorganização, da falta de previsibilidade e do descaso. Sempre ouço do poder público, o qual na maioria dos casos cobra caro por este serviço, desculpas esfarrapadas. A principal delas é que a população flutuante aumentou muito. E dai. Não era isso que o Estado, a CDL, Sindicatos, o trade turístico, outros movimentos organizados e o Município queriam? Então queriam e não se prepararam? Não se planejaram e se estruturaram para a demanda extra e temporária? Ou são mentirosos, ou incompetentes ou estelionatários com os turistas, os veranistas pagadores de pesados IPTU e taxas de lixo. Destroem o exercíciode capatção de tutistas e a venda da imagem de Santa Catarina e de seus municípios ou balneários. Nem mais, nem menos.
A pior senha deste cenário é a falta de água potável disponível nesta época do ano na maioria das cidades do litoral somada a inexistência de saneamento básico na maioria das praias catarinenses (e as que têm, reconhecidamente não dão conta da demanda extra de verão).
Como você pode vender uma imagem e não se prepara para receber quem quer desfrutar desta imagem como saúde, lazer e segurança? Como você pode oferecer a um turista uma praia sem balneabilidade? Você convidaria um amigo para a sua casa sem limpá-la, sem mantê-la asseada, sem água potável e banho com água contaminada? Duvido. É uma comparação gorsseira, mas muito próxima da realidade. E os empresários do setor tem a sua parcela de culpa também.
Ontem, dia 30 de Dezembro, Casan vem a público dizer que vai faltar água mesmo. Diagnóstico que salta a qualquer leigo, mas enrola-se aos técnico e principalmente aos políticos. As prefeituras autorizaram a construção (em Gaspar – que não é balneária -nem precisa disso) de prédios e casas além da capacidade de produção de água ou dos projetos de expansão. Inacreditável. A culpa é sempre dos outros. Ninguém planeja, ninguém se integra no planejamento, ninguém no serviço público trabalha a favor do cidadão e da cidadã. Ninguém assume e se estabelece na responsabilidade cidadã, social e coletiva.
Rodolf Giuliani, ex-prefeito de Nova York, insiste que você como administrador de cidades, precisa antes se preocupar com as pequenas coisas para facilitar a solução das grandes. As pequenas coisas resolvidas e se somadas representam muito. São mais fáceis de se resolver, custam menos e causam mais impactos. Favorecem a percepção de que alguma coisa está sendo feita, que se é mais limpo, mais seguro, diferente. Então porque não começar com a rigorosa fiscalização dos animais soltos nas praias, defecando nas calçadas; das biciletas nas calçadas lotadas, “driblando” e atropelando idosos e crianças; e o combate a esta horda (ganges) de “guardadores” de carros nas praias, festas, shows e restaurantes, os quais aparecem do nada, constrangem, achacam, assustam, roubam e danificam o patrimônio dos turistas e dos nativos.
Mais. Por que não proibir o consumo de bebidas nas calçadas em garrafas e copos de vidros (que se quebram – por descuido, acidente e proposital – e os cacos cortam os pés descalços tão comuns na praia)? a multiplicar, repito multiplicar, as lixeiras (e o recolhimento do lixo) na areia e nas calçadas; intensificar a varrição; implantar o policiamento ostensivo; implantar as barreiras policiais inibidoras; fiscalização intensa nos vendedores ambulantes, no bares e restaurantes (punindo-os, proibindo-os, fechando-os); o combate ao consumo (não estou falando do tráfico) de drogas em público e que aumentou consideravelmente neste verão retrato acabado do afrouxamento policial, etc.
A inclusão social, a ascenção de classes em todas as faixas da pirâmide social, permitu o crescimento do turismo no Brasil e especialmente em Santa Catarina. A maioria não tinha saboreada esta oportunidade ao alcance do seu novo poder aquisitivo. É um filão a ser preservado, mas para isso é preciso a contrapartida, o invesimento, a infraestrutura. Estamos atraindo (e bem, e com altos custos) e ao mesmo tempo decepcionando, permitindo novas escolhas dos turistas na próxima temporada e mais do que isso, permitindo uma contra-propaganda gratuita que vai trabalhar para nos colocar numa situação de fragilidade.
Está ai um grande desafio para Aristides Niehues, o novo presidente do Conselho Estadual de Turismo. A lei 14.367, de 25.01.2008 que criou o Conselho é bem clara. Basta segui-la. As vezes parece ser uma letra morta diante da realidade. O que diz o seu artigo terceiro? Reproduzo-o para que não haja dúvidas.
Art. 3º Compete especificamente ao Conselho Estadual de Turismo:
I – sugerir prioridades para o Plano Estadual de Turismo;
II – apresentar proposições e opinar sobre ações, programas e projetos de desenvolvimento turístico;
III – emitir parecer, quando solicitado, sobre programas e projetos referentes à organização do turismo no Estado que requeiram a decisão do Chefe do Poder Executivo;
IV – incentivar a interação e a integração com entidades públicas e privadas, organizações não-governamentais e organizações da sociedade civil de interesse público, nacionais e internacionais, com o objetivo de incrementar o intercâmbio de novas tecnologias de desenvolvimento turístico;
V – auxiliar a Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte nas ações de propor e promover atos e medidas necessárias à ampliação e melhoria da infra-estrutura e da prestação de serviços oferecidos aos turistas;
VI – propor prioridades para o plano de aplicação de recursos do Fundo Estadual de Incentivo ao Turismo – FUNTURISMO;
VII – zelar para que o desenvolvimento da atividade turística no Estado se faça sob a égide da sustentabilidade ambiental, social e cultural;
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